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AL VINO

Por Marianne Piemonte Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
As novidades, tendências e delícias do mundo do vinho sem um gole de “enochatismo”. Marianne Piemonte é jornalista, sommelière e empresária do mercado de vinhos.

Vem aí uma safra de ótimos e surpreendentes espumantes nacionais

Novidades foram apresentadas na Wine South America, realizada entre os dias 6 e 8 de maio no Rio Grande do Sul

Por Marianne Piemonte
Atualizado em 11 Maio 2025, 10h46 - Publicado em 11 Maio 2025, 10h38

Nos três dias da Wine South America, realizada entre os dias 6 a 8 de maio, em Bento Gonçalves (RS), o vinho nacional foi o destaque e o espumante a estrela maior – sendo que essa categoria trouxe algumas das mais saborosas surpresas, com destaque para os rótulos produzidos com uvas pouco convencionais para esse tipo de vinificação, que é feita normalmente à base de Chardonnay e Pinot Noir. Propor mudanças nessa receita tradicional é algo que já se faz aqui e ali no exterior, mas os produtores brasileiros radicalizaram na inovação – os resultados da ousadia são vibrantes.

Uma das que apostaram nesse novo caminho para espumantes é a Sotterrani, vinícola que nasceu no porão de uma casa de descendentes italianos em Bento Gonçalves. A empresa levou para feira o Nature Rosé Antique Tannat (R$ 177), um espumante 100% da uva Tannat das safras 2016 e 2017. Detalhe: essa é a qualidade usada para fazer tintos potentes, que normalmente acompanham um churrasco. No caso da produção do espumante da Sotterrani, a Tannat ficou 60 meses em contato com borras de levedura. O resultado é surpreendente. Além das notas clássicas desse estilo de vinificação (como brioche e panificação), o espumante traz aromas de damasco e flor de laranjeira. O fresquíssimo lote de apenas 386 garrafas pode ser comprado pelo site que leva o nome da vinícola.

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Nature Rosé Antique Tannat: 100% da uva Tannat (Reprodução/VEJA)

A Amitié, comandada pela sommelière Andreia Gentilini e a enóloga Juciane Casagrande, lançou o Extra Brut Viognier. Produzido pelo método tradicional, ele fica 12 meses em contato com as leveduras e o resultado é uma textura cremosa, sem perda de frescor. O produto expande o portifólio de rótulos feitos à base da Viognier na vinícola, que já levou a primeira medalha de ouro da inglesa Decanter para um Viognier brasileiro, o branco tranquilo (sem borbulhas) feito com a mesma uva na linha Oak Barrel, lançado no ano passado.

A quarta geração de viniviticultores da Cristofoli, da região de Faria Lemos, uma das mais castigadas pelas enchentes de 2024, apresentou o Rosé Sur Lie Nature (R$ 147) da empresa, produzido pelo método ancestral e sem conservantes (zero). De acordo com esse sistema, é feita apenas uma única fermentação e o vinho é engarrafado com as borras (leveduras), que funcionam como um tampão. Assim, o produto pode continuar sua evolução na adega. As uvas aqui são a italiana Sangiovese e a clássica francesa Pinot Noir. O resultado tem um final de frutas vermelhas fresco, ideal para acompanhar um atum ou um presunto cru.

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Espumante feito pelo método ancestral da uva Sangiovese da vinícola Cristofoli (Divulgação/VEJA)

Giberto Pedrucci, viticultor gaúcho que recebeu título de Chevalier e medalha da ordem do mérito agrícola pelo Ministério da Agricultura francês, tem uma micro-champanheria em Garibaldi com os espumantes mais premiados no Guia Descochados. Já o seu Millésime Brut 2021 (R$ 319) ostenta o título de melhor espumante do país, segundo o Guia Adega Brasil 2025. Todos esses produtos são frutos de blends únicos. O Brut Blanc de Blanc, por exemplo, mistura quatro qualidades brancas e está desde 2016 entre as opções de borbulhas servidas na piscina do Copacabana Palace. O Brut Rosé Tradicional (R$ 97), que leva Gamay, Pinot Noir e Merlot, pode eventualmente levar uma pitada de Cabernet Sauvignon. Apesar de trabalhar sempre no limite do açúcar, sempre na linha abaixo. É um champenoise muito fácil de beber.

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Giberto Pedrucci: micro champanheria em Garibaldi (Divulgação/VEJA)
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AVANÇOS NOS NEGÓCIOS

Pela qualidade dos produtos e pelo esforço das vinícolas em inovar, os espumantes nacionais ganham cada vez mais espaço no exterior. Em pouco tempo no estande da Aurora na Wine South America, esta colunista assistiu à comemoração do envio de três containers das nossas borbulhas para a China, mesmo destino para onde será enviado outra remessa da Rio Sol, do Vale do São Francisco (PE). O evento contou com a presença de 7 000 compradores brasileiros e estrangeiros, que movimentaram as rodadas de negócios e os corredores da feira. Entre eles, estava o sul-africano Hein Barnard, da importadora BarGate Drinks, empresa de origem inglesa, pela primeira vez no Brasil. Ele estava surpreso com o volume de coisas boas que encontrou na feira. Segundo Barnard, normalmente é preciso garimpar nesses eventos, mas na WSA o percentual de qualidade estava alto. “Estou impressionado com a diversidade, não há apenas um estilo bom. Há muita coisa boa, de diversos estilos”, disse ele à coluna AL VINO.

Pude degustar e confirmar o que a boa observação do comprador sul-africano constatou. Além dos rótulos feitos com uvas não convencionais, havia por lá ótimas opções de frescos espumantes dos métodos charmat (que fazem a segunda fermentação em tanques de aço inox) e dos cremosos champenoise (que tem a segunda fermentação na garrafa), das tradicionais uvas Chardonnay e Pinot Noir. Ficou também evidente a excelência dos micro-lotes produzidos na nossa primeira Denominação de Origem para espumantes, a de Pinto Bandeira (cidade vizinha a Bento Gonçalves).

Nesses três dias, pude perceber também a energia do setor. É no mínimo impressionante dar um passeio pela Casa Valduga, que comemora 150 anos da chegada da família do Trento à Serra Gaúcha e que tem hoje a maior cave das Américas, com capacidade para 6 milhões de garrafas. Pude provar produtos direto dos tanques, como o da Courmayeurs Domaine, que estava com seus champenoise na cave ainda sem data para lançamento, e produtos que chegaram à feira ainda sem rótulo como o espumante de Vermentino da Manus, um champenoise fermentado com leveduras autóctones (não industrializadas), que tem lançamento previsto para o dia dos namorados, 12 de junho.

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Diante dessa cena tão vibrante quanto a a acidez dos espumantes nacionais, o enólogo Eduardo Valduga, que levou o título de enólogo do ano pelo Guia Descorchados e o prêmio de melhor espumante de 2025 na mesma publicação, com o Maria Valduga N/V (R$569), encabeça uma comissão de empresários da região que acreditam que o próximo passo é um nome próprio para designar os rótulos nacionais — assim como o champanhe, da região nordeste da França, o franciacorta, espumante da Lombardia, na Itália, e a cava, quando nos referimos aos feitos na Catalunha, norte da Espanha. “Temos identidade, processo e terroir característicos, tenho certeza que será um passo importante”, disse. Gilberto Pedrucci confirma e acrescenta: “Aqui os jovens bebem espumante nas danceterias, isso é identidade, é cultural’, contou.

Pode soar um pouco pretenciosa essa ideia, mas a verdade é que, de salto em salto em termos de qualidade, quebram-se barreiras e derrubam-se preconceitos. Ter uma marca própria para identificar aqui e lá fora essas bebidas preciosas mostra que os produtores daqui não estão para brincadeira.

Que assim seja!

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