Especialistas em vinhos elegem seus destinos preferidos de enoturismo
Uma seleção de roteiros para quem deseja harmonizar bons rótulos, experiências gastronômicas e hospedagens em locais charmosos e cheios de história
Mais de 80% das vinícolas nacionais investiram no enoturismo, transformando suas propriedades em destinos para visitantes que desejam combinar uma série de atividades deliciosas. Os itens principais desse cardápio são os passeios pelos vinhedos, as degustações de rótulos, as experiências gastronômicas e as hospedagens em locais charmosos e cheios de história. Para fazer uma seleção do que há de melhor dentre as muitas opções espalhadas pelo país, a coluna AL VINO convidou alguns dos principais colunistas, jornalistas e especialistas em vinho. As indicações dessa elite de degustadores são muito valiosas com a chegada da safra das férias de julho. Saúde e boa viagem!
BAHIA
Vinícola Uvva, Chapada Diamantina
Tânia Nogueira, formada pela ABS-SP e autora do blog Branco ou Tinto da Folha de S.Paulo: “Mucugê, na Chapada Diamantina, interior da Bahia, é uma vilazinha linda, com casas e igrejas históricas, várias pousadas, bares e restaurantes. Em torno, você encontra diversas opções de turismo de aventura: a Chapada é famosa por suas cachoeiras e trilhas e por seu relevo rochoso, diferente de tudo que a gente conhece. Desde 2022, existe ali também uma vinícola diferente da maioria daquelas que o enoturista está acostumado a frequentar: a Uvva. Com arquitetura arrojada, exposições de arte contemporânea e móveis de design brasileiro, a Uvva e seus vinhedos ficam de frente para os maciços rochosos dos cartões postais. A sala de degustação e o restaurante dão vista para eles. Lá você encontra vinhos muito bons, na maioria de estilo bordalês. Pegue uma taça, sente-se numa poltrona do Sérgio Rodrigues e aproveite a vista”.
DISTRITO FEDERAL
Vinícola Brasília, Brasília
Flávia Maia, sommèliere e influencer: “Como sommelière profissional e uma apaixonada por vinhos, sempre procuro encaixar visitas a vinícolas em minhas viagens. Minha mais recente descoberta foi o enoturismo da região do cerrado de altitude brasileiro. Convidada para a inauguração da Vinícola Brasília, localizada há cerca de uma hora do Plano Piloto do DF, fiquei encantada com a estrutura turística da vinícola que coloca essa região no cenário enoturístico brasileiro. Com opções variadas de hospedagem no Plano Piloto e algumas boas opções no PADF, onde está a vinícola e excelentes opções gastronômicas, esse é um destino que vale a pena conhecer. Entre os vinhos o grande destaque é o tinto Monumental, 100% Syrah, que foi destaque na criteriosa Avaliação Nacional de Vinhos de 2023. Não resisti e trouxe de lá um queijo de uma das fazendas de ovelha, que amadurece em folhas de figo. Harmonização perfeita para os brancos e rosé do cerrado”.
SÃO PAULO
Vinícola Entre Vilas, São Bento do Sapucaí
Didu Russo, colunista de vinho e autor do canal Didu Russo, no Youtube: “Eu sugeriria passeios curtos por São Paulo. Há diversos, mas eu faria duas sugestões bem distintas para o turista interessado em vinho tirar suas conclusões e aumentar seu conhecimento. Uma seria de um produtor artesanal e autêntico. Falo do Entre Vilas em São Bento do Sapucai, onde o proprietário transformou sua antiga casa em hospedagem. Cabe uma família ali. Ele cozinha bem pra caramba e nos fins de semana o lugar bomba. Super rústico, charmoso e autêntico. O Rodrigo Ismael, o dono, produz vinhos muito sinceros e autênticos e não usa a dupla-poda, pois é contra a aplicação do Dormex (um veneno proibido no Mundo todo e aqui ninguém fala disso) então ele põe uma cobertura em suas vinhas e com isso não sofre os problemas com chuvas na hora que não quer. Aliás seu irmão é um dos grandes conhecedores desse processo. Os vinhos dele são a paisagem engarrafada e todos com fermentação espontânea com as próprias leveduras. O outro destino que recomendo é a Guaspari, um projeto lindíssimo de um milionário do ramo de mineração que transformou parte de sua fazenda de café e com campo de golfe em uma vinícola. Os vinhos são pelo método de dupla-poda e os vinhos são muito bem feitos e premiados. O passeio é lindo e há programação de visitas guiadas com refeição e tal. São dois mundos muito distintos e educativos para leitores interessados neste mundo infindável do vinho.
Vinícola Guaspari, Espirito Santo do Pinhal
Sergio Timerman, cardiologista do Incor e criador da confraria Vinho Salva: “Distante 200 quilômetros de São Paulo, a vinícola é um marco no enoturismo da região do Espírito Santo do Pinhal e também representa dedicação e paixão pela vinicultura. Ela está situada numa histórica fazenda de café, onde eles ainda cultivam microlotes. Combina tradição com inovação de maneira bem interessante, a família não apenas entendeu o potencial do terroir local, mas também abraçou o ritmo natural e tempo da produção de vinhos, que para mim são excepcionais e estão mostrando cada vez mais qualidade do Brasil. Cada garrafa reflete não só o respeito ao ambiente, mas também um compromisso com o desenvolvimento da região. Eu fiquei muito impressionado quando estive lá, fui conduzido por pessoas altamente especializadas, que conhecem o universo da vinicultura, o local é belíssimo, tem uma cave com barricas fantástica. Há belíssimas degustações, você pode inclusive fazer a prova com harmonização. Faz parte do meu roteiro de vinhos nacionais, porque estão mudando a região e cativando quem gosta de bom vinho e boa gastronomia como eu, e, melhor, pertinho da minha querida São Paulo”.
SANTA CATARINA
Fazenda Bom Retiro – Vinícola Thera, Bom Retiro
Celso Masson, head de experiências do Castelo Saint Andrews e colunista do Money Report: “Antes de se tornar um complexo enoturístico, com restaurante de alta gastronomia, pousada, vinícola e até um condomínio residencial, a Fazenda Bom Retiro já abrigava os vinhedos que forneciam a matéria-prima para a Villa Francioni, pioneira em vinhos finos de altitude da Serra Catarinense. Comandada pelo empresário João Paulo de Freitas e seu filho Abner, a Thera produz ótimos espumantes, vinhos brancos, rosés e tintos que estão nas cartas de restaurantes estrelados pelo Guia Michelin, como Tuju e Evvai, em São Paulo. Mas nada supera a sensação de relaxar ali, ao lado de Urubici, onde a temperatura no inverno fica bem abaixo de zero. Os novos chalés têm piso aquecido, lareira, banheira vitoriana e varanda. Uma delícia.
www.fazendabomretiro.com.br/pousada/
RIO GRANDE DO SUL
Spa do Vinho, Bento Gonçalves
Christian Burgos, publisher revista Adega: “Sempre que vou para uma região produtora procuro uma excelente base. E minha base quando vou para a Serra Gaúcha, mais especificamente Bento Gonçalves e região é o Spa do Vinho. Fica no coração do Vale dos Vinhedos. Acordar vendo os vinhedos e sair para uma corrida me faz começar com o pé direito. O café da manhã é ótimo. Daí é sair para explorar as vinícolas e restaurantes da região e voltar após o almoço para relaxar no spa. A sauna, a piscina com jato d’água forte e hidratação no Spa me recompõem para curtir mais restaurantes com bons vinhos no jantar. Depois é um bom banho e cama para começar tudo de novo”.
Spa do Vinho, Bento Gonçalves
Antonio Calloni, ator, sommelier e entusiasta do vinho brasileiro: “Sou filho de italianos, fui alfabetizado em italiano e bebi vinho minha vida inteira, desde pequeno, quando não era politicamente incorreto. Claro, vinho com água, como se dava as crianças e não me tornei alcóolatra, mas tomei gosto. Me formei na ABS como sommelier amador e passei a me interessar por vinho nacional. Por duas vezes fui jurado da Avaliação Nacional de Vinhos Brasileiros (realizado pela Associação Brasileira de Enologia), uma das vezes a prova foi Bento Gonçalves. Quando estive em Bento (RS), fiquei hospedado no Spa do Vinho. Meu deus, que maravilhoso, as instalações são ótimas, a comida é deliciosa, eles têm uma carne inesquecível e vinhos de diversas partes do mundo para harmonizar, são chilenos, argentinos, Malbec, Cabernets, Tannats… Foi uma experiência sensacional, que adorei e super indico porque vale realmente!”.
Vinícola Don Giovanni, Pinto Bandeira
Benoit Mathurin, é pai da Lina e chef do Esther Rooftop: “O que para muitas pessoas pode parecer um perrengue, fui uma das viagens mais bonitas e memoráveis que já fiz na vida. A mãe da minha filha estava com 5 meses de gravidez e nós fomos para o Rio Grande do Sul à bordo do meu fuscão 1974. Percorremos 3500 km em uma viagem 15 dias. Foram 3 dias para descer, passando por Curitiba, Florianópolis. Foi muito bom, foi a última viagem antes da minha filha nascer, no melhor estilo road trip para esvaziar a cabeça. Em Monte Belo do Sul, encontrei toda a turma dos vinhos naturais, muitos produtores, foi muito agradável. Eu já conhecia o espumante da Don Giovanni, sabia que eles tinham uma estrutura para enoturismo e decidimos conhecer. Há espaço para piquenique, você pode passear no vinhedo e em um campo de girassol. É uma hospedagem sem pretensão, com produtos de qualidade e isso me seduziu, porque é tudo feito por pessoas da terra que trabalham na terra. Fizemos uma degustação inesquecível, provamos um Blanc de Blanc 2002 maravilhoso, ele abriu vinhos dos anos 90… Acredito que é um passeio que pode seduzir casais jovens quanto pessoas com mais experiência. Não é a Disneylandia do vinho, a vinícola conta a história de uma família. Foi uma viagem linda!
Família Geisse, Pinto Bandeira
Suzana Barelli, jornalista especializada em vinhos, é colunista de vinhos do Estadão: “Sou uma consumidora de espumantes, daquelas que não perde uma oportunidade para abrir uma garrafa, seja no final de manhã de domingo, para um pôr do sol e até para acompanhar um pastel de queijo na feira (pode provar, que tem espumantes que ficam muito bons nesta harmonização). Assim, a minha dica de enoturismo brasileiro passa pelas borbulhas. E indico a Cave Geisse, em Pinto Bandeira (RS). Primeiro porque acho bastante agradável o espaço para a degustação, onde é possível provar os diversos espumantes da casa, acompanhado de alguns petiscos, com calma. Mas a vinícola traz um pouco de aventura, com a possibilidade de um passeio com um carro 4 x4, pela mata e margeando um rio que passa pela propriedade. Seu fundador, o chileno Mario Geisse, se preocupou em preservar uma grande área de mata nativa, só plantando vinhas onde o terreno era propício para elas, assim a área verde é bem grande e nativa. E o passeio que termina nos vinhedos, com uma vista para lá de privilegiada”.