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Por que é boa a notícia de que a Folha sairá do Facebook

Talvez a melhor solução para conter as fake news seja mesmo deixar que a rede social se encha apenas de bobagens e mentiras

Por Filipe Vilicic Atualizado em 8 fev 2018, 17h36 - Publicado em 8 fev 2018, 17h05

Hoje, a Folha de S. Paulo anunciou que deixará de postar em seu perfil no Facebook. As justificativas, que envolvem razões éticas e econômicas, foram detalhadas em um texto publicado pelo jornal (pode ser conferido neste link). Contudo, a maior razão foi o fato de a rede social ter decidido diminuir a relevância em sua timeline de posts vindos de mídias, como a Folha ou VEJA, e marcas, em geral.

A manobra da gigante da web, como expliquei em artigo recente deste blog, visou: incentivar que as empresas paguem para transformar as suas publicações em anúncios (o que daria início a um problema ético gravíssimo, de transformar notícias nesses anúncios, o que não seria saudável nem para quem apura as mesmas, nem para os leitores); combater a tendência das pessoas recorrerem às redes sociais para se informar, passando a dar maior destaque a posts mais, digamos, fúteis de amigos e familiares; e, em especial, tirar o Facebook do meio de toda a discussão que ele mesmo, sem querer, criou, em torno de temas como fake news (o conteúdo deliberadamente falacioso que tomou a web), influência do comportamento das pessoas nesses sites em momentos históricos fundamentais, como as últimas eleições presidenciais dos EUA, etc.

E acrescento mais um ponto. As estratégias do Facebook para tentar fazer com que veículos de renome passassem a escrever, ou a criar vídeos, para o site, sem ganhar por isso, se mostraram furadas. No fim, provou-se que a empresa de Mark Zuckerberg tentava mais é tirar vantagem da situação, pouco concedendo em troca, e sambando na cabeça de jornalistas profissionais.

De volta ao assunto quente, sentiu-se que muitos do meio jornalístico lamentaram as novas medidas do Facebook, de valorizar menos o conteúdo de qualidade em sua timeline. Eu, como apontei em post anterior acerca do assunto, acho que as mudanças podem se configurar como uma ótima notícia para o bom jornalismo. A atitude da Folha é um primeiro indício disso.

Como também apontei em outros textos deste blog (no link, um exemplo; quer saber mais do tema… leia-o), no mundo virtual vale a máxima de que uma verdade ainda está calçando as botas, enquanto a mentira deu meia volta ao mundo. Por motivos simples, mas também demasiadamente humanos (e deveras off-line), as fofocas circulam com extrema facilidade. De forma mais rápida e eficiente do que papos ditos sérios, bem-apurados, de conteúdo crível, responsáveis. Quais são os motivos para essa dinâmica?

O ser humano, em geral (a maioria, sim; apesar de não todos, é claro), adora o que é apelativo, o que só chama atenção, o que é de fácil digestão intelectual. Por isso, é muito maior a chance de um indivíduo clicar numa manchete facebookiana com algo como “A celebridade Y surtou na manifestação X depois de tomar substâncias ZMW e, por isso, revelou que é uma fascista apoiadora de políticos como K” ou, sendo direto, “Famoso TAL fez TAL (preencha com qualquer coisa)”, do que em títulos mais sóbrios. O problema é que as headlines sensacionalistas costumam ser, também, frutos de fake news, de pura manipulação, criadas por gente que espalha mentiras por aí para tentar ganhar em cima disso. Em paralelo, os textos bem-pensados, apurados, originados da prática do bom jornalismo, também não são (usualmente) apelativos – ainda mais se comparados com notícias inventadas e com aquelas listas de qualquer coisa que se espalham pela internet.

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Por essas razões, alguns veículos de mídia estavam se rendendo à lógica facebookiana, passando a dar valor a manchetes meramente chamativas, aquelas listinhas de qualquer coisa típicas da web, algum quiz em torno de uma moda da vez, e por aí. Em consequência, perdia espaço na esfera on-line os bons textos, as apurações primorosas.

No entanto, isso se provou um tiro no pé. Afinal, a tática de guerrilha nas redes sociais tende a atrair um tipo de leitor que sempre existiu, mas antes não era tão cobiçado assim. Aquele que se recusa a pagar por conteúdo de qualidade, privilegiando só o que é de graça (mesmo que o de graça seja uma mentira ou, na melhor das hipóteses, algo feito por alguém destreinado); o que costumava se contentar em se informar ouvindo fofocas em festas de família, ou o que bêbados comentam em bares (em comentários de padrão similar a muito do que aparece por aí na web). Em outras palavras, o que já tinha preguiça – ou seria só falta de interesse, ou motivação? – de parar um pouco de assistir a, por exemplo, um reality show qualquer para se dedicar a um jornal, uma revista, um livro, um documentário. Em tempo: nada contra reality shows (há momento para tudo nesta vida).

Esse estilo de público já estava acostumado à digestão fácil da linha de conteúdo que se espalha, de forma majoritária, pelo Facebook. Por isso, é natural que ele tenha se encontrado na rede social, que lhe serviu de espelho. Só que, ao acessar o site, ele também via material de qualidade, como o proveniente do bom jornalismo. Com isso, ficou difícil de separar o joio do trigo – e isso vale tanto para a qualidade do que se lê quanto a de quem está lendo.

Sendo assim, é boa a notícia de que a Folha deu o primeiro passo para deixar o Facebook de lado. Digo primeiro, pois o perfil do jornal na página não foi (ainda?) deletado; por enquanto, só parou de ser atualizado. Se uma boa parcela da mídia seguir esse caminho, pode ser que a rede social se veja repleta cada vez mais (e apenas) de bobagens e mentiras. Numa comparação, em algo como era, no Brasil, com o extinto Orkut.

Se esse for o resultado, talvez as pessoas compreendam que não é muito inteligente confiar apenas na timeline do Facebook para se informar. Em efeito contínuo, passarão a entender que o que se vê, normalmente, na rede não é checado, não é crível. Ou seja, se acenderá o sinal de alerta quando se digitar facebook.com no navegador.

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E quando os leitores quiserem realmente se informar? Nesse futuro que espero que ocorra, ao saber que o Facebook não é mais uma fonte digna, os navegantes talvez passem a adotar (somente) sites de mídias nas quais confiam para tal, ou mesmo adquiram o hábito de entrar nas redes sociais para procurar pela informação… mas aí diretamente no perfil do veículo de credibilidade, sem mais consumir a tudo de forma passiva, rolando a primeira página do Facebook para baixo, sem parar, sem peneirar, sem muito pensar.

Ou estou sendo demasiadamente otimista?

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Por que os radicais do Facebook não vão às ruas…

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