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A Origem dos Bytes

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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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O app que verifica se alguém tá te paquerando no WhatsApp. Fim do flerte?

Mei, novo programa que vasculha as conversas no aplicativo de mensagens, é dotado de uma inteligência artificial (IA) teoricamente capaz de detectar paixão

Por Filipe Vilicic Atualizado em 3 dez 2019, 17h02 - Publicado em 23 nov 2019, 14h18
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  • As melhores histórias de amor sempre foram marcados por aquele clímax no qual um não sabe se o outro realmente está interessado. As borboletas no estômago, o comichão, para alguns até suor, têm de ser vencidos para se tomar uma primeira iniciativa. Foi assim em Casablanca, mesmo na cena de reencontro entre os dois amantes protagonistas do filme, assim como em A Primeira Noite de Um Homem, em Harry e Sally, 10 Coisas que Odeio em Você, em Romeu e Julieta – lembre da cena do baile –, ou mesmo A Dama e o Vagabundo e no relacionamento de Wall-E e Eva, no ótimo desenho da Pixar. Só que agora os robôs, os algoritmos, as inteligência artificiais (IAs), querem acabar com todo esse charme. Como indica um novo aplicativo cujo objetivo é avaliar se conversas de WhatsApp denunciam atitudes de paquera por (ao menos) uma das partes, ou não.

    O aplicativo chama Mei e, oficialmente, por meios regulares, ainda não está disponível no Brasil (duvido que algo similar tarde a desembarcar pelas lojas de apps daqui). A proposta dele é da mais sensitiva: após a análise de uma conversa que já tenha atingido algo próximo de 1000 palavras trocadas (mais ou menos este texto), em apps e mídias sociais (o alvo inicial é o WhatsApp), promete calcular a probabilidade de um interlocutor estar gamado no outro e vice-versa; além de garantir outros poderes mediúnicos, como interpretar se alguém está com raiva. Tudo mediante o pagamento de uns dólares por cada serviço, da forma como funciona com as cartomantes – seria este mais um emprego ameaçado pelas IAs?. “No futuro, os compromissos serão amplamente baseados em dados”, já profetizou Es Lee, criador desse estranhíssimo speed dating online.

    Sally não passaria quase um filme inteiro para sacar as reais intenções de Harry. Benjamim transpiraria menos, talvez, ao conhecer Sra. Robinson em A Primeira Noite de um Um Homem. As histórias teriam menos graça.

    Até porque, o que o aplicativo tenta fazer é mostrar como a maioria dos romances pode ser sem graça. Reflita. O Mei procura padrões nas conversas, que não por coincidência se repetem em papos a ponto de se tornarem apimentados. Se há padrões, simplesmente quer dizer que a maioria dos xavecos não passa de farinha de um mesmo saco. Os criadores do programa falaram, na revista estadunidense Wired, que seriam capazes até de identificar que palavras como “noite” e “sonhos” seriam recorrentes nos galanteios.

    A arte da sedução então pode ser mais das ciências exatas do que das humanas? Talvez. Mas qual é a graça de ter conhecimento disso? É o fim do flerte?

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    Frisa-se também que há aqueles que ainda gostam de crer, com razão ou não, que integram uma minoria que pelo menos preserva fé na tentativa de sair do padrão comportamental. Que não necessariamente seguem as regras do Tinder ou do eHarmony para se guiar no intrincado jogo do amor. Que preferem seguir às cegas, sem algoritmos, para se entregar às borboletas na barriga. Ou que ainda apreciam assistir e viver histórias como as dos filmes.

    E como ficará se os robôs domarem também o amor? Ensaiei respostas em outros textos desta coluna, como num no qual se conta de algoritmos que não só predizem se casais combinam, como estimam quanto esses relacionamentos devem durar, em meses exatos (confira no link). Trata-se de um futuro que combina menos com comédia romântica (boa ou ruim), mais com um episódio de Black Mirror (bom ou ruim).

    Um caminho estranho para a evolução das inteligências artificiais e das redes sociais? Não tanto.

    A primeira rede social com algum elemento que faz lembrar um Facebook data de 1959. Foi uma iniciativa de dois estudantes de engenharia da Universidade Stanford que tinham o objetivo de colocar homens e mulheres com gostos parecidos em contato, com a meta de “dar namoro”. No filme A Rede Social a história é um pouco forçada, mesmo assim o próprio Facebook nasceu a partir de alguma intenção de aproximar pessoas interessadas umas nas outras – projeto que evoluiu para uma ferramenta recentemente lançada pela turma de Mark Zuckerberg e cujo objetivo é justamente ser um novo Tinder.

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    O progresso da IA pode indicar que o futuro pode não ser como o imaginado em O Exterminador do Futuro, em que robôs tomam o mundo pela violência. Talvez o amor seja o atalho dessa “dominação”. Entre aspas pois pode ser que nos entreguemos ao domínio. Aí para o futuro se vislumbra mais algo como naquele filme Ela, em que Joaquin Phoenix (o Coringa) se apaixona por um celular com a voz da Scarlett Johansson. Ou quem sabe até um Admirável Mundo Novo.

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