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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.

Netflix: ‘Big Mouth’ (ótima!) e o vício em celulares e outras tecnologias

Em nova temporada de uma das séries mais ousadas da atualidade, a saga animada sobre a vida de jovens vai além ao realizar uma metacrítica da Netflix

Por Filipe Vilicic Atualizado em 11 out 2019, 15h23 - Publicado em 11 out 2019, 15h21

Tá difícil de compreender os jovens de hoje? Ou mesmo: você é um jovem e tem sentido também dificuldade de se compreender? Recomendo imensamente: assista a Big Mouth, na Netflix. Esqueça 13 Reasons Why (bom, mas não no mesmo patamar), Euphoria (idem)… a melhor série sobre os adolescentes de hoje é a animação Big Mouth. Não por acaso registra 100% de aprovação entre críticos no Rotten Tomatoes, e nota 8,6 (de 10) no Metacritic.

A brilhante série – sim, brilhante, principalmente no significado mais espetacular da palavra (“reluzente, cintilante”) – contempla diversos aspectos da vida de pré-adolescentes, adolescentes e de seus pais. Alerta: legalmente, ela é recomendada a maiores de 18 anos de idade; contudo, convenhamos, certamente grande parcela (aposto que a maior) do público é composta por jovens; não sejamos hipócritas.

O diferencial está no tratamento do roteiro. Não há dedos, caretices e, principalmente, obtusidades na abordagem. Também não se fecha, em nenhum momento, à discussão de problemas reais, diários, enfrentados pela juventude – mesmo que muitas e muitas vezes alguns pais queiram cerrar os olhos, fingindo que seus filhos vivem em contos de fadas dos anos de 1930.

Logo, contemplam-se temas como sexualidade, identidade, narcisismo, depressão, descobertas hormonais etc. Tudo de forma divertida, leve, instigante. Faltaria espaço neste texto para tecer elogios. Aviso: evidentemente, e como seria o preconizado, Big Mouth, por sua ousadia, honestidade, realismo e qualidade, acabou por irritar indivíduos que repudiam a abertura de temas destacados (de neonazistas a associações de pais daqueles que cerram os olhos às reais agruras de seus filhos).

Mas este blog trata de nossa relação com as máquinas, nas vidas virtuais e reais (mesclando-se). Logo, ressalto aqui a forma como Big Mouth se debruça sobre o assunto.

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Assim como é com as duas últimas gerações (digo, na vida real), a tecnologia perpassa todos os temas levantados pela série da Netflix. Destacam-se, todavia, dois episódios da última temporada, a 3ª, lançada há pouco na plataforma de streaming. São eles: Celular (3º episódio da 3ª temporada) e Obsessão (4º).

Como é durante todo Big Mouth, revelam-se os benefícios e malefícios da(s) tecnologia(s). Nos episódios, um dos garotos usa várias ferramentas possibilitadas pelo celular – WhatsApp, redes sociais, Google – para descobrir a própria identidade sexual, e explorá-la, de maneira saudável (pelo ponto de vista da psicanálise, da ciência, não pela noção de “saudável” daqueles pais fanáticos já citados acima). Já outro menino descobre, pelo on-line, uma série da Netflix que o auxilia a se sentir firme em sua vida, em suas descobertas, em sua passagem pela adolescência. Em uns momentos, a série que ele vê na própria Netflix só lhe faz bem; noutros, acaba por exagerar no tempo dedicado ao streaming – e há até um momento em que se tira sarro com o algoritmo de sugestões do site que, convenhamos, não costuma ser tão efetivo assim em suas indicações (algo como: “se você gostou de Rambo… aposto que adorará Queer Eye for the Straight Guy” – !?!?!).

Em paralelo, explora-se como outro jovem abusa do YouTube para espalhar mentiras sobre os colegas; mas, depois, usa o mesmo recurso para pedir desculpas e anunciar que irá maneirar mais no vício em apps e redes sociais. Ao longo das temporadas há diversas focos extras dados à forma como se encaram as tecnologias.

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Todavia, destaca-se, nesse ponto, a história do adolescente Nick Birch. Em Big Mouth, ele se torna um viciado em seu celular – para fazer de tudo nele. Nick esquece dos colegas, não dá bola para conselhos dos pais, substitui o melhor amigo pela companhia de seu smartphone novinho (este é exibido, na animação, como se fosse uma mulher sensual que o atrai; no estilo do que propõe também o filme Her, ou Ela, de Spike Jonze e protagonizado por Joaquin “o novo Coringa” Phoenix).

Não por acaso, a mãe de Nick também exagera no tempo gasto com a internet, as redes sociais (e serve assim de péssima influência / referência). Chega ao ponto de arriscar o casamento e a relação com os três filhos – um deles, uma menina, também mergulhada no vício no smartphone. Os dois únicos da família que escapam: o primogênito, que está nem aí para a coisa toda; e o pai, que procura mostrar à sua esposa, assim como ao caçula, os perigos dos exageros ao celular.

A abordagem da Netflix é incrível justamente por conseguir discutir tanto o lado bom quanto o danoso do advento de tecnologias que tomaram o cotidiano do século XXI. Big Mouth não é nem tecnofóbico – com medo das inovações, mostrando-as como se dessem início a um Apocalipse –, nem tecnofílico – quando se aprova tudo, de forma acrítica, do que surge do Vale do Silício. Acha-se um adequado balanço ao se sugerir uma conversa inteligente acerca do tema. Tanto que, no fim, os viciados em tecnologia têm um desfecho, digamos assim, feliz.

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Entretanto, isso não quer dizer que jogaram seus celulares no lixo e deletaram perfis em redes sociais. Pelo contrário, continuaram a utilizar as tecnologias. Todavia, tornaram mais consciente, produtivo, saudável, o hábito. Em outras palavras: dominaram as máquinas, em vez de se deixarem ser dominados pelas máquinas.

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Em tempo: há variados dados que revelam a importância de se discutir o vício em tecnologias, de celulares e videogames, a namoradas virtuais e outros elementos dessa linha; o assunto é tratado em outros textos deste blog (neste vídeo, por exemplo), assim como também em entrevista que fiz com o psicólogo Adam Alter, autor do livro “Irresistível” (confira neste link).

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