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Crônicas do mundo tecnológico e ultraconectado de hoje. Por Filipe Vilicic, autor de 'O Clube dos Youtubers' e de 'O Clique de 1 Bilhão de Dólares'.
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Filha de Olavo de Carvalho: “Ele não gosta do Brasil. Nem de humanos”

No livro ‘Meu Pai, o Guru do Presidente’, ela, em parceria com Henry Bugalho, revela fatos escabrosos e incoerências intelectuais de Olavo e do olavismo

Por Filipe Vilicic Atualizado em 24 jan 2020, 10h54 - Publicado em 23 jan 2020, 18h54
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  • No último texto desta coluna, detalhei algumas das muitas revelações do recém-lançado livro Meu Pai, o Guru do Presidente. Nele, Heloisa de Carvalho, filha do famigerado astrólogo, ideólogo e youtuber Olavo, relata loucuras, crueldades, incoerências e a falta de conhecimento exibida em diversas situações pelo pai.

    A obra, que contou ainda com a coautoria do filósofo e youtuber Henry Bugalho (desavença pública do “guru”), traz histórias como as da passagem de Olavo de Carvalho por um manicômio, a vez em que ele liderou seitas – uma de astrologia, outra islâmica –, prováveis invencionices e mentiras do ideólogo – conhecido por afirmar que há fetos abortados na fórmula de refrigerantes, por flertar com o terraplanismo, dentre outros posicionamentos anticientíficos, obscurantistas – etc. Para esclarecer mais detalhes da trajetória revelada na obra, volto a indicar a leitura do artigo anterior deste colunista.

    Leu? Se sim, ou se julga que já sabe o suficiente sobre Olavo de Carvalho, agora compartilho a conversa que tive com Heloisa, a filha mais velha do guru da (ao menos parte) família Bolsonaro. Confira:

    (Para acompanhar este blog, siga no Twitter, em @FilipeVilicicno Facebook e no Instagram)

    Por que decidiu expor, por meio do livro, conflitos tão íntimos com teu pai? No passado, Olavo prejudicava, com suas atitudes, apenas um grupo restrito de pessoas, como seus seguidores nas seitas. Com as redes sociais, isso mudou. Hoje ele é guru do atual presidente. Foi isso que fez com que oito editoras me procurassem com propostas de escrever sobre a história dele. Não aceitei nenhuma dessas sugestões, pois não me via como escritora, não tenho essa habilidade. Só que aí cedi na nona vez.

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    Por quê? Foi um escritor, cujo nome não vou revelar, que me fez o convite. Ele quis entrar no projeto como escritor fantasma, pois alegava saber o quão violento pode ser Olavo, motivando seus seguidores a atacar quem o critica. Depois de conversar com ele, entendi a importância de ter uma obra que revelasse quem é meu pai de verdade. Após esse primeiro contato, esse meu antigo parceiro na empreitada conseguiu uma editora interessada em pulicar. Nisso, o editor-chefe dessa empresa me chamou para almoçar. Durante nosso encontro, fez várias perguntas, antes de confirmar o interesse no livro. Depois do papo, questionei o motivo de tantas indagações. Nisso esse editor explicou que tinha ouvido muito o Olavo dizer que eu seria louca, alcoólatra, drogada. No almoço, descobriu que eu não era isso. Nada disso. Não passavam de ataques a mim, posteriores à minha ida a público, em 2017, em carta pública (compartilhada em post no Facebook), com o intuito de mostrar quem é meu pai.

    Qual é o motivo de não revelar o nome do escritor que a procurou? Brigamos ao longo do trabalho. Ele começou a inserir trechos com os quais não concordava, apuração que fez apenas na internet etc. Afirmei que queria na obra apenas aquilo que eu, pessoalmente, tivesse testemunhado. Falei: “O livro é meu, o nome é meu, quem vão processar sou eu. Só vão sair fatos que eu presenciei”. O fulano se revoltou e informei à editora que não trabalhávamos mais juntos. Foi nisso que Henry Bugalho entrou na história. Já o conhecia, desde que comentei em um vídeo dele no qual falava de Olavo. Depois disso, ele me entrevistou no YouTube e viramos próximos. Sempre que Henry precisava de alguma prova para algum vídeo acerca de meu pai, entrava em contato comigo. E eu enviava a ele. Foi ótimo Henry ter topado escrever comigo, ainda mais porque quis, de pronto, assinar o livro ao meu lado. Achei ótimo. Até porque, diferentemente de meu parceiro anterior, Henry não demonstra ódio por Olavo. Assim como eu não tenho ódio de meu pai.

    Qual é seu sentimento em relação a ele? Ódio, não tenho. Só quero, assim como Henry, combater o olavismo. O próprio Olavo, que viva muitos anos! Mas com os netinhos, como um idoso, digamos, regular. Sem espalhar o mal que é o olavismo.

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    Mas, quando pensa em seu pai, qual emoção lhe vem, se não o ódio? Há mágoa. O que meu pai fez em minha infância e juventude repercute muito até hoje em minha vida adulta (repito: para saber das histórias, leia o texto anterior desta coluna; ou o próprio livro de Heloisa, evidentemente). Como exemplo, para ter uma ideia, eu levei muitos anos para me formar em Direito. Por quê? Pois tive de fazer MOBRAL para me alfabetizar e um supletivo para ter diploma de Ensino Médio. Até hoje tenho muitos problemas para escrever. Por quê? Pois não pude aprender quando criança, por limitações impostas por meu pai. Até hoje não aprendi Matemática direito, por exemplo.

    Tentou antes uma reconciliação com seu pai? Sabe que cheguei a acreditar que ele tinha mudado? Cheguei a ligar para ele, em 2017, para conversar. Mas aí percebi como ele ainda seguia o mesmo. Por exemplo, continuava com o método de, com várias pessoas, incluindo comigo, de usar os outros, humilhar, depois descartar, e destruir publicamente. Nada mudou. Foi quando percebi a importância de revelar ao público quem ele é realmente. No passado, antes das redes sociais, meu pai não tinha repercussão. O que ele fazia atingia um número limitado de indivíduos. Agora não é assim. São muitos seguidores. A coisa tomou outra dimensão. Muita gente enganada.

    Como acha que ele engana as pessoas? Aprendeu muitas técnicas, como de hipnose e lavagem cerebral, em aulas particulares. O professor dele era um psiquiatra, o mesmo que dirigia o manicômio onde Olavo esteve internado. Meu pai sabe causar confusão mental no público. Para seus alunos, não importa que ele não tenha coerência, que fale uma coisa numa hora, o oposto noutra. Não questionam.

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    No livro, defende que Olavo de Carvalho destrói publicamente quem não concorda com ele. Tem receio de que algo assim aconteça com você? Já sofri diversos ataques dele e de olavetes. O modus operandi é sempre o mesmo. Se alguém o critica, primeiro ele se faz de vítima. Depois, instiga seus seguidores a ataques violentos. Para tentarem destruir o outro. Ele instiga raiva. Vi isso a vida toda. Desde que ele tinha uma escola de astrologia, quando era líder de seitas. Por isso, já previa que ocorresse comigo. Por exemplo, no Facebook mesmo, já ameaçou de processo até uma emissora de rádio que me deu espaço para contar o que testemunhei sobre ele.

    Seu pai chegou a processá-la? Eu que o processo, pois ele me acusou publicamente de ter falsificado a assinatura dele no certificado de meu casamento islâmico. É mentira. Ele assinou.

    Qual é a origem do comportamento atual de seu pai? Ele vem de uma família cheia de loucura, de desequilíbrio psicológico. Acho que sou a única normal. Meu avô morreu quando eu tinha 1 ano de idade. Do que sei, ele abandou minha avó quando Olavo tinha uns 8 ou 9 anos de idade. Depois disso, meu pai foi viver com uma tia, irmã de meu avô, com quem cortaram relações. Até os 18 anos de idade, Olavo não viu o pai. Mesmo assim, o odiava. Pois minha avó e a tia dele contavam uma série de mentiras, instigavam essa raiva. Para ter ideia, minha avó dizia para mim que meu avô tinha morrido ainda casado com ela, vivendo com ela. Tudo mentira. Tratava-se de uma família que inventava fatos para alimentar ódio. Além disso, repito, Olavo foi criado pela mãe e pela tia. Minha avó era racista, preconceituosa. Do tipo que dizia “Por que trouxe esse negrinho aqui em casa?”. Nos últimos 10 anos da morte dela, mudou de atitude, finalmente. Passou a ser mais humana. Só que o estrago já estava feito. Além disso, também vale falar de meu tio. Este está faz 20 anos dizendo que criará um programa de computador que deixará todos milionários. Porém, nesse período, perdeu todo o dinheiro que tinha, teve de leiloar imóveis. Veja isso. Meu pai cresceu escutando história mentirosas, repletas de ódio, em uma família complicada, que fugia de verdades.

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    Consegue destacar uma característica marcante da personalidade de seu pai? Ele também é um covarde. Medroso. Sempre foi. Andava armado o tempo todo, até em casa, quando era líder islâmico. Isso por ter medo de represálias de antigos membros de sua seita anterior, a Tradição, que se sentiam lesados por ele. De tão medroso que era, meu pai nem abria as janelas de casa. Essa covardia foi um dos fatores de ter fugido para os Estados Unidos. Ele mora lá por ter tremendo medo de encarar as consequências, jurídicas e físicas, das besteiras que fala por aí. Aliás, não só esse foi motivo para sair do Brasil. O fato é que Olavo odeia os brasileiros, todo o nosso país.

    Ele não se diz nacionalista? Nunca gostou do Brasil. Nem do povo brasileiro. Aliás, de povo, não gosta mesmo. Não conversava nem com a empregada doméstica que trabalhava em sua casa. Não se comovia com nada, nem com problemas familiares. Para simplificar, meu pai não gosta de seres humanos. É isso.

    No livro, revelam-se fatos assustadores sobre Olavo de Carvalho. Possui provas de tudo que afirma na obra? Sim. Tenho um arquivo com 10 gigabytes de dados. Com documentos que comprovam tudo que digo.

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