Carlo Rovelli, físico best-seller: ciência vs obscurantismo na internet
Para o autor de obras como A Ordem do Tempo a rede tem ajudado a disseminar bizarrices, mas logo aprenderemos a usar melhor a web
O físico quântico italiano Carlo Rovelli se destacou globalmente, e recentemente – e já na faixa de seus 60 anos de idade –, como um dos principais nomes do empenho da divulgação científica. Em livros como Sete Breves Lições da Física e A Ordem Tempo – este último, resenhei, citando entrevista feita com o autor, para VEJA (no link) –, esclarece os mais complicados conceitos da astrofísica contemporânea. Em sua última obra, por exemplo, debruça-se sobre a aventura humana, ao longo de milênios, em busca de compreender o tempo, chegando até o momento atual, no qual se acredita que tal conceito (sim, o tempo) talvez nem exista de fato.
O papo que tive com Rovelli, porém, se estendeu. Na informalidade, caiu numa conversa sobre se a internet e as redes sociais contribuiriam ou prejudicariam o fazer científico. Compartilho a seguir esse trecho da conversa:
A internet tal qual conhecemos nasceu, pela mão de nomes como Tim Berners-Lee, justamente como um meio de compartilhar informações rapidamente entre pesquisadores. Com o tempo, transformou-se no que se tornou hoje, uma cacofonia na qual é possível encontrar, no meio, muita gente defendendo teses absurdas como a de que a Terra é plana, não redonda (tema bem popular no YouTube). Afinal, a web tá aí para ajudar ou prejudicar? Está começando a ficar preocupante como ideias erradas começaram a se espalhar, como a de que a Terra seria plana. Mas esse tipo de ignorância sempre houve e agora só está mais exposta e, por isso, é potencialmente mais danosa. Quanto mais aprendemos sobre a complexidade do universo, mais pessoas que não querem se informar tentam combater o que descobrem aqueles que trabalham por essas descobertas. Contudo, com a internet também é possível apontar rapidamente essas falhas, corrigindo-as.
Mas quem ganha nessa disputa? A ciência ou o obscurantismo? A internet é uma grande ferramenta. Uma que deixou muitas coisas mais fáceis, como a possibilidade de eu trabalhar em conjunto com pesquisadores de outros países. Consigo, agora, falar em tempo real com um colega nos Estados Unidos. Só que se trata de uma ferramenta muito nova, sobre a qual ainda estamos aprendendo. E ainda não sabemos como usá-la da melhor maneira. Por isso há essa recente disseminação de informações falsas pela rede, como as ligadas a assuntos científicos. Temos aí uma armadilha. Mas assim nasce também toda grande inovação, que pode ser utilizada para algo bom, ou ruim.
Caímos nessa armadilha? Acredito que logo mais aprenderemos a usar a internet da melhor forma. Por exemplo, logo se popularizará ainda mais a proposta de que qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, poderá estudar com qualquer professor, de qualquer lugar do mundo, pela rede. O que talvez ajude a disseminar, assim como é uma das funções de meus livros, que a ciência é acessível e divertida. Assim como a música. Ou como qualquer manifestação artística.
Para acompanhar este blog, siga-me no Twitter, em @FilipeVilicic, no Facebook e no Instagram.
Também deste blog
A ciência contradiz o papa: pode existir um inferno, sim (mas um virtual)
‘Molière’, ‘Love, Love, Love’ e a geração bocó de gadgets e redes sociais