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Vênus nunca teve vida como a da Terra, sugere estudo

Investigação indireta aponta que o planeta nunca teve água na forma líquida, essencial para a biologia como conhecemos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 dez 2024, 17h22

Entre especialistas e até leigos, é comum a ideia de que Vênus é uma espécie de Terra que deu errado. Os dois têm o mesmo tamanho e compartilham mais ou menos a mesma zona no sistema solar, mas o planeta vizinho é muito mais quente e coberto de assustadoras nuvens de ácido sulfúrico. A esperança estava no passado: acreditava-se que ele teria se desenvolvido de maneira parecida com a Terra, com rios correntes, convidativos à vida, e depois tivesse passado por um intenso aquecimento que levou ao estado atual. Um estudo recente, no entanto, nega essa teoria e sugere que o planeta nunca teve vida como a observada por aqui. 

A descoberta foi publicada nesta segunda-feira, 02, no periódico científico Nature Astronomy e indica que a superfície do planeta é muito mais seca do que seria caso, em algum momento, tivesse tido água em forma líquida. “Não saberemos com certeza se Vênus tem ou pode ter tido vida até enviarmos sondas no final desta década”, disse a estudante de doutorado de Cambridge e autora do artigo, Tereza Constantinou. “Mas, dado que provavelmente nunca teve oceanos, é difícil imaginar Vênus tendo sustentado vida semelhante à da Terra, que requer água líquida.”

Como a descoberta foi feita?

Hoje, todo o planeta Terra é extremamente úmido. Isso acontece porque a água está aqui há muito tempo e, como ele passou por uma fase lenta e gradual de resfriamento, parte do líquido ficou preso nas rochas endurecidas – é questão de física. Justamente por esse motivo, uma grande quantidade de vapor é liberada quando um vulcão está em atividade. 

Sabendo disso, os pesquisadores decidiram investigar a composição dos vapores liberados pelos vulcões venusianos, uma ótima maneira de entender melhor a composição da superfície. Mas para chegar lá, antes é preciso compreender a dinâmica atmosférica: de maneira geral, os vulcões venusianos têm uma grande influência sobre a composição atmosférica. Portanto, se há algum equilíbrio, é porque à medida que as moléculas são degradadas pelo calor ou pela radiação, elas também são repostas pelo vulcanismo. 

Para compreender, então, qual a composição do gás liberados pelo vulcanismo, bastava que os cientistas olhassem para a composição atmosférica. Eles avaliaram o ciclo de renovação de água, gás carbônico e sulfeto de carbonila, um químico comum no planeta. Isso revelou que os gases liberados pelo vulcão são compostos por, no máximo, 6% de água, um valor muito inferior ao observado nos vulcões terrestres. 

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Isso indica que o solo venusiano é extremamente seco e, portanto, é pouquíssimo provável que em algum momento do passado tenha havido água líquida circulando por lá. Essa conclusão pode ajudar na nossa busca por vida em planetas ainda mais distantes. “Se Vênus tivesse sido habitável no passado, isso significaria que outros planetas que já encontramos também poderiam ser habitáveis”, disse Constantinou. “Gostaríamos de ter descoberto que Vênus já foi um planeta muito mais próximo do nosso, então é meio triste descobrir que não foi, mas no final das contas é mais útil focar a busca em planetas que têm mais probabilidade de sustentar vida – pelo menos a vida como a conhecemos.”

Por enquanto, essa é só uma teoria, baseada nas melhores evidencia que temos até agora, mas o futuro próximo pode trazer mais certezas. Até o final da década, a Nasa deve lançar sua missão Davinci, que vai sobrevoar o planeta e colocar uma sonda na superfície de Vênus, o que pode proporcionar evidências diretas da sua composição e, claro, da possibilidade ou não de haver vida por lá. 

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