Foi a celebração de uma conquista. Quando duas caixas de madeira aterrissaram no Brasil, em junho, a comunidade científica comemorou. Elas continham duas placas de pedra com 50 centímetros de lado e cerca de 10 quilos. São as partes componentes do fóssil de um pequeno dinossauro que teria vivido há 110 milhões de anos, na região da Bacia do Araripe, no interior do Ceará. Em 1995, os restos do animal, do tamanho de uma galinha, foram subtraídos de forma irregular do país por pesquisadores estrangeiros e levados para um museu na Alemanha. Após quase três décadas, ele estava de volta ao lar.
A saga do animal que percorreu o Nordeste no período Cretáceo Inferior daria um filme. Em dezembro de 2020, um grupo de pesquisadores europeus publicou um artigo seminal na revista científica Cretaceous Research. Além de descrever o animal pré-histórico, ali pela primeira vez aparecia a alcunha Ubirajara jubatus. O nome em tupi significa “senhor da lança”, clara referência às estruturas que se projetam de seu pescoço. Na descrição, o corpo do bicho seria coberto por “protopenas”, filamentos escuros que se assemelham às penas das aves modernas.
A publicação produziu grita na comunidade científica internacional. Uma campanha de repatriação se iniciou imediatamente, com direito a uma hashtag, #UbirajaraBelongsToBR (Ubirajara pertence ao Brasil). Mas o estudo, com a descrição do fóssil que estava depositado no Museu de História Natural de Karlsruhe, só foi tirado do ar um ano depois, em função de pressões acadêmicas. Iniciaram-se, então, negociações envolvendo corpos diplomáticos de Brasil e Alemanha, além do museu onde estava Ubirajara e o Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Em julho de 2022, veio o anúncio da devolução. E mais um ano se passou até o Ubirajara voltar, definitivamente, para o Brasil. A solução ideal foi levá-lo para o Museu Plácido Cidade Nuvens, no Ceará, que reúne vários achados do manancial paleontológico da região — de onde, aliás, ele foi tungado. Essa volta significou uma reparação histórica e o reconhecimento de que as riquezas científicas brasileiras merecem ser valorizadas e protegidas.