Quando se pensa em aquecimento global, o aumento do nível do mar é uma das maiores preocupações. Um outro fenômeno, no entanto, tem o poder de potencializar essa crise, colocando a população em um risco ainda mais elevado — o afundamento dos terrenos urbanos. De acordo com um novo artigo científico, 45% da área das maiores cidades chinesas está passando por esse processo em um ritmo acelerado.
O trabalho avaliou imagens de satélite capazes de avaliar de maneira bastante precisa o processo de deformação de terrenos. No total, 82 cidades chinesas foram estudadas, mostrando que 270 milhões de pessoas estão em terrenos que afundam numa taxa maior que 3 milímetros por ano. 16% das cidades ainda estão passando por esse processo num ritmo de 10 milímetros anuais, afetando 70 milhões de indivíduos.
Qual o problema?
Também chamado de subsidência, esse é um processo natural, causado pela sedimentação, mas que causa preocupações no cenário atual. “A subsidência põe em risco a integridade estrutural dos edifícios e das infraestruturas críticas e agrava os impactos das alterações climáticas em termos de inundações, especialmente nas cidades costeiras, onde reforça a subida do nível do mar”, afirma Robert Nicholls, em um comentário publicado na Science, mesma revista em que o artigo foi publicado.
No último século, o afundamento já somou cerca de três metros. Se esse ritmo de subsidência for mantido, estima-se que em 100 anos, até 26% da costa do país estará abaixo do nível do mar.
Quais as causas?
O trabalho não avaliou as causas do afundamento, mas os autores apostam na atividade humana. “A subsidência parece estar associada a uma série de fatores, como a retirada de águas subterrâneas e o peso dos edifícios”, escrevem no artigo publicado também na Science. Por la esse evento pode ser ainda mais intenso devido a curta idade geológica do território.
O fenômeno não é exclusivo do país asiático. No Brasil, a má administração de uma mina de extração de sal provocou um extenso afundamento na cidade de Maceió, em Alagoas, culminando com o colapso de parte do território, enquanto nos Estados Unidos mais de 40 mil quilômetros quadrados do território também foram afetados pela exploração humana.
Para especialistas, a possibilidade de realizar esse monitoramento via satélite é uma grande evolução, mas argumentam que é necessário um trabalho maior para aprimorar as técnicas e aumentar o monitoramento preciso e contínuo.
“Muitas cidades e áreas em todo o mundo estão desenvolvendo estratégias para gerir os riscos das alterações climáticas e da subida do nível do mar”, escreveu Nicholls. “Precisamos aprender com esta experiência para também enfrentar essa ameaça, que é mais comum do que se reconhece atualmente.”