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Psicodélico produzido por sapo tem potencial para tratamento psiquiátrico

Efeitos ansiolíticos e antidepressivos foram observados em camundongos

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 18h49 - Publicado em 8 Maio 2024, 18h46

Na última década, em especial desde 2017, houve o que muitos especialistas descrevem como renascimento da ciência psicodélica. Desde lá, pesquisadores têm descoberto o enorme potencial dessas drogas, que desde a década de 1970 foram demonizadas e afastadas dos laboratórios de pesquisa. Agora, mais uma dessas substâncias foi descoberta e ela vem da toxina de uma espécie de sapo venenoso.

Chamado cientificamente de 5-MeO-DMT, o elemento é encontrado na secreção venenosa produzida pelo Incilius alvarius, popularmente conhecido como Bufo alvarius, Sapo do Rio Colorado ou Sapo do Deserto de Sonora. O que os cientistas da Escola Icahn de Medicina, em Nova York, descobriram é que essa substância é capaz de produzir efeito ansiolíticos e antidepressivos em animais.

Por enquanto a substância só foi testada em camundongos, mas o mais interessante é que foi possível fazer uma versão ligeiramente modificada do 5-MeO-DMT, que consegue manter os efeitos de interesse psiquiátrico mesmo sem causar os efeitos alucinógenos conhecidos.

“Psicodélicos como LSD e psilocibina entraram em ensaios clínicos com resultados iniciais promissores, embora ainda não entendamos como eles engajam diferentes alvos moleculares no cérebro para desencadear seus efeitos terapêuticos”, diz a autora do estudo, Audrey Warren, em comunicado. “Nosso estudo destaca, pela primeira vez, como receptores de serotonina, como o 5-HT1A, provavelmente modulam os efeitos subjetivos da experiência psicodélica e também desempenham um papel potencialmente crucial em seu resultado terapêutico observado clinicamente.'”

O poder alucinógeno da secreção produzida por essa espécie já era conhecido. Ele é bastante comum nos Estados Unidos e no México, e nesses locais, algumas pessoas já consumiam a secreção para fins religiosos ou recreativos.

Conseguir a substância, contudo, pode não ser tão fácil. Primeiro porque, apesar de potente, ela não é produzida em muitas quantidades. Depois, porque ele consta na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como uma espécie que pode vir a ser ameaçada por esse tipo de coleta. 

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Como o estudo foi feito?

A descoberta foi publicada nesta quarta-feira, 8, no renomado periódico científico Nature. Para chegar aos resultados, eles utilizaram um modelo animal de transtorno psiquiátrico, ou seja, um camundongo que foi exposto cronicamente a um estresse para passar a apresentar um estado semelhante a ansiedade e depressão. Esse tipo de transtorno, nos animais, faz com que eles se locomovam menos e se exponham menos a situações de risco.

Após a purificação da substancia de interesse, retirada da toxina do sapo, eles administraram aos animais a versão original e a algumas versões modificadas da proteína. Isso mostrou que o 5-MeO-DMT é capaz de reverter esse estado semelhante à depressão e à ansiedade de maneira bastante prologada nos animais.

O efeito no sistema nervoso dos alucinógenos se dá principalmente porque eles se ligam a receptores de serotonina. Uma das modificações feitas pelos pesquisadores fez com que o 5-MeO-DMT se ligasse preferencialmente a apenas um desses receptores, fazendo com que a atividade ansiolítica e antidepressiva continuasse, mas eliminando o efeito psicodélico.

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“Conseguimos ajustar com precisão a estrutura do 5-MeO-DMT a para obter a máxima atividade no receptor 5-HT1A e atividade mínima no 5-HT2A,” explica o autor sênior Daniel Wacker. “Acreditamos que nosso estudo levará a uma melhor compreensão da complexa farmacologia dos psicodélicos, que envolve diversos tipos de receptores.”

Como estão os estudos com outros psicodélicos?

Diversos psicodélicos tem sido estudados para tratar condições psiquiátricas, sendo a maioria deles bastante seguros do ponto de vista clínico. Entre os resultados mais promissores estão o efeito da ayahuasca no tratamento de casos graves de depressão e o MDMA no tratamento do transtorno pós-traumático. O LSD e a psilocibina, encontrada nos chamados cogumelos mágicos, também estão sendo investigados.

O mecanismo de cura desses medicamentos em potencial ainda está sendo analisado, mas as principais teorias sugerem que a ação se dá principalmente por meio da ação nos receptores de serotonina. Nesses transtornos psiquiátricos, uma característica comum é a dificuldade de estabelecer novas maneiras de pensar na vida ou em determinados acontecimentos. O que essas substâncias fazem é induzir a criação de novas sinapses, facilitando lógicas diferentes de pensamento e, consequentemente, a quebra do ciclo lógico que leva ao sofrimento psicológico.

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