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Pesquisadores criam mapa com sítios pré-históricos de São Paulo

Mapa Rupestre tem como objetivo catalogar registros arqueológicos e contribuir para a compreensão do passado na região

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 ago 2023, 18h07

As artes rupestres não são exatamente aquelas que ocupam os grandes museus ou galerias. Na verdade, elas se parecem mais com as que crianças fazem com seus lápis de cor quando começam a rabiscar os primeiros desenhos. Apesar de não serem famosos por suas inovações técnicas, esses registros únicos são fundamentais para a compreensão do passado humano. Esse tipo de sítio, porém, costuma ser pouco lembrado quando rememoramos o passado de São Paulo. E é justamente esse cenário que um grupo de pesquisadores vem trabalhando para mudar. 

Um mapa interativo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo, Fundação Oswaldo Cruz e Universidade Federal de Pernambuco está catalogando os sítios arqueológicos com registros rupestres. Embora esses locais não sejam os destinos históricos mais procurados pelos turistas, eles se caracterizam como importantes marcadores culturais dos primeiros habitantes do nosso país e foram usados como forma de comunicação entre grupos diversos. Por esse motivo, podem nos dar pistas sobre a vida e o avanço de diferentes populações pelo território brasileiro e nos ajudam a recuar milhares de anos no tempo, compreendendo aspectos inéditos de nossos primeiros ancestrais

O estado de preservação dessas relíquias, porém, está longe de corresponder a sua relevância histórica. “Os sítios rupestres paulistas encontrados até agora, em sua maioria, não estão bem conservados, o que é uma das nossas preocupações”, diz Marília Perazzo, pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e idealizadora do mapa. “Esses sítios arqueológicos são testemunhos culturais de uma atividade humana muito recuada no tempo. Cada sítio rupestre é único e insubstituível”. A arqueóloga salienta a importância da preservação desses registros, sem os quais, pode-se perder dados importantes sobre a circulação de pessoas e conhecimentos, interações culturais e formas de vida e subsistência. 

Com o auxílio de tecnologias avançadas, como varredura a laser, fotogrametria digital, drones e georreferenciamento do território, os pesquisadores catalogaram até agora 54 sítios arqueológicos. A maioria no interior de São Paulo, em cidades como Piracicaba, Ribeirão Preto, Franca, São Carlos e Araraquara. Perazzo esclarece que essa concentração geográfica pode ter sido favorecida por um desenvolvimento urbano mais lento. A predominância da paisagem rural pode ter, involuntariamente, contribuído para a preservação desses espaços. “Não posso afirmar que não existam outros sítios rupestres na cidade de São Paulo ou nas regiões metropolitanas” diz Perazzo. “Eles podem ter existido, mas atualmente, com o crescimento das cidades, não existem mais, ou não os encontramos ainda”. 

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Um exemplo de como a ocupação urbana pode ser prejudicial para a preservação desses sítios arqueológicos aconteceu em Guarulhos. Perazzo relata que ela e sua equipe identificaram o Sítio Morro do Nhangussu em um perímetro urbano da cidade em 2021, onde identificaram 12 conjuntos de gravuras rupestres. Ao voltar em 2023 para o registro e catalogação, se depararam com uma queimada recente na área que o sítio estava localizado, o que afetou diretamente os registros pré-históricos encontrados na região. 

O projeto de Perazzo tem como meta elaborar uma carta arqueológica de sítios com registros rupestres no estado de São Paulo, com identificação, catalogação e divulgação desses espaços históricos. “Esse tipo de documentação permite ao pesquisador conservar os dados e armazená-los em bancos de dados integrados, possibilitando identificar, analisar e monitorar os aspectos da conservação dos grafismos”, diz. “Além de preservar, mesmo que de forma digital, o patrimônio para as futuras gerações”.

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