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Os desafios climáticos para quem vencer a eleição

A humanidade chegou ao prazo máximo de trinta anos antes que o aquecimento global se torne irreversível. O Brasil tem papel determinante nesse cenário

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 out 2018, 19h52 - Publicado em 10 out 2018, 15h27

Não importa o resultado. Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT) chegará ao Planalto com a missão de encarar a contribuição do Brasil nas mudanças climáticas com a mesma pressa atribuída ao enfrentamento da economia estagnada e a crise dos 13 milhões de desempregados. Isso porque no dia 7 de outubro, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) publicou um relatório em caráter de urgência sobre a situação do aquecimento global. O cenário é crítico: na velocidade com que as emissões de gases de efeito estufa seguem, a terra chegará na temperatura de 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais em pouco mais de dez anos. O número parece pequeno, mas meio grau acima disso é suficiente para alterar a geografia, flora e fauna de continentes inteiros. A outra notícia do relatório é que reverter o cenário em tempo está cada vez mais difícil.

O Brasil, assim como outras 195 nações que participam do Acordo de Paris, firmaram em 2015 que agiriam contra o avanço das alterações do clima. Três anos depois do tratado, a passos lentos, o país reportou à ONU que conseguiu reduzir suas emissões de carbono na Amazônia e Cerrado antes da data voluntária de 2020. Um marco importante, ainda que a redução seja contestada por ambientalistas, que alegam serem falhos os métodos de medição. A participação da energia renovável, que na média global fica em 20%, avançou e atingiu 43% (a meta para 2025 é de 45%). A gasolina, quem diria, também viu sua hegemonia ameaçada. O carro elétrico entrou no radar com o plano Rota 2030, que pretende incentivar a fabricação e importação de híbridos e elétricos, ainda que não defina o quanto esse tipo de veículo deve ter de participação na frota de transportes brasileiros no final da próxima década.

Mesmo assim, segundo os dados divulgados pela ONU, é preciso fazer mais e mais rápido. Com a nova gestão, que se inicia em 2019, ganha-se, em teoria, a chance atualizar as políticas ambientais e os investimentos que dão suporte ao cumprimento do acordo. Ao analisar os planos de governos dos presidenciáveis do segundo turno, é possível ver quais medidas em relação ao meio ambiente e clima serão o foco na possível próxima administração. Nesse contexto, os candidatos têm visões bem distintas.

Na cartilha divulgada pelo deputado federal Jair Bolsonaro, que acumulou 46% dos votos no primeiro turno, não existem tópicos referentes à energia limpa, redução do desmatamento ilegal e contenção de emissões de carbono. O plano do político se atenta somente em reunir na mesma pasta as atribuições relacionadas à agropecuária, recursos naturais e ao meio ambiente rural. Em declarações, Bolsonaro prometeu abrir a Amazônia ao agronegócio e afirmou que, se eleito, daria fim a participação do Brasil no Acordo de Paris. Seguindo o que Donald Trump fez nos Estados Unidos.

O petista Fernando Haddad, que recebeu 29,3% dos votos, nas questões que impactam o clima, propõe a criação de taxas de carbono, adotadas em vários países para onerar as emissões de gases de efeito estufa, e a criação de incentivos fiscais para quem investir em tecnologias limpas. Também prometeu modernizar o portfólio energético do país para zerar as emissões da matriz elétrica até 2050, além de criar a ambiciosa meta de zerar o desmatamento até o fim do seu mandato.

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Independentemente de as políticas apresentadas serem suficientes, ou não, para deixar o Brasil em dia com a manutenção do planeta, as leis do mundo físico, as que estão esquentando o clima, exigem mudanças para manter o modo de vida da civilização minimamente sustentável. Será necessária uma cooperação global para que a maioria dos países tenha abundância de energias renováveis, uma parcela significativa de meios de transporte elétricos, intensivo reflorestamento de matas e, se a tecnologia permitir, a captura de carbono da atmosfera e o seu aprisionamento no subsolo como prática comum. Também existem desafios sobre comportamentos sociais. As indústrias precisam de uma guinada de interesse dos consumidores por produtos que não afetem o clima do planeta em sua fabricação. Os especialistas acreditam que sem ajuda dos governos pouca coisa pode mudar.

O relatório da ONU atenta que acelerar a redução de carbono e manter o teto de 1,5 grau para as próximas décadas é uma questão de sobrevivência. Ao atingir 2 graus, mais de 10 milhões de pessoas correrão o risco de ser afetadas pelo aumento do nível do mar. Esse meio grau também significa que populações inteiras estarão expostas à escassez de água devido ao fim de fontes vindas de geleiras em montanhas. Nesse cenário, o planeta fica mais imprevisível. Tempestades, furacões, estiagens e outros fenômenos empurrarão cada vez mais pessoas para a pobreza, reduzindo sem descanso os rendimentos de nações com grande dependência da agricultura, como é o caso do Brasil.

Em dezembro, quando a nova Presidência já estará definida, o Brasil participará da 24° COP, realizada na Polônia. Durante duas semanas, os países apresentarão suas diretrizes para garantir a continuidade do Acordo de Paris. Entre os pontos a ser debatidos estão o desempenho dos membros até o momento e quais medidas de mitigação, adaptação e financiamento surtiram melhores resultados. Ao fim do balanço, o Brasil pode sair com uma nova leva de metas para ser aprovadas, ou não, pelo novo presidente, que, muito além de ditar o clima político do país, terá a árdua responsabilidade de contribuir com o clima do planeta.

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