Cientistas alemães descobriram a evidência mais antiga de que neandertais caçavam leões das cavernas. De acordo com o estudo divulgado nesta quinta-feira, 12, as marcas nos ossos de um fóssil de leão de 48 mil anos são compatíveis com ferimentos feitos por uma lança de madeira.
“Inicialmente, esse tipo de comportamento era atribuído exclusivamente à nossa espécie, o Homo sapiens”, afirmou à VEJA Gabriele Russo, doutorando da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e autor do artigo publicado na Scientific Reports. “Mas a noção de que os Neandertais interagiram com leões das cavernas guarda um grande significado e indica que eles estavam ativamente envolvidos com o ambiente, inclusive esses animais formidáveis.”
Esse tipo de achado é extremamente raro. Ao longo de toda a Europa, existem apenas 20 sítios que contém evidências de relação entre humanos primitivos e leões das cavernas, mas nenhuma delas, até agora, apontava que os neandertais tinham capacidade de caçar esses animais.
O fóssil em questão, inclusive, fora interpretado de outra maneira no passado. Descoberto em 1985 e estudado em 1992, acreditava-se que ele havia pertencido a uma animal que morreu e, depois, foi utilizado pelos hominídeos. A análise mais recente, no entanto, encontrou uma perfuração na costela do leão que é compatível com a encontrada em outros animais que foram caçados utilizando lanças de madeira.
O artigo científico também traz uma outra novidade. Em ossos reminiscentes de outros três leões, que datam de algo entre 55 e 45 mil anos atrás, os pesquisadores encontraram marcas semelhantes às vistas quando a pele do animal é retirada, sugerindo que o couro do leão era utilizado por esses indivíduos, provavelmente como roupas ou em rituais. Essa é a evidência mais antiga desse tipo de comportamento já encontrada até hoje.
“Todo mundo ficou muito animado com a descoberta. Anteriormente, nosso conhecimento estava limitado a poucos casos espalhados no tempo e no espaço”, afirma Russo. “Agora nós sabemos que os neandertais foram os primeiros na linhagem dos hominídeos a ganhar vantagem sobre os predadores, sendo pioneiros em dominá-los culturalmente.”