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Não eram ETs: as hipóteses sobre as luzes misteriosas no céu brasileiro

O caso reforça o fascínio pela vida extraterrestre e fornece farto material para alimentar teorias da conspiração

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 nov 2022, 08h00

Os avistamentos de luzes misteriosas no céu de Porto Alegre nos últimos dias provocaram dois efeitos distintos nas pessoas. Os mais crédulos cravaram que, depois de décadas de angustiante espera, os extraterrestres finalmente estavam em vias de fazer contato. Ou seria, então, um evento de natureza mística. Por seu lado, os céticos obviamente rejeitaram as imprudentes teorias e foram atrás de uma explicação lógica para o fenômeno. Para quem não sabe, a história foi a seguinte: desde o início de novembro, imensas bolas coloridas de luz piscaram no infinito, e pilotos de diversas companhias aéreas relataram o acontecimento, alguns mais empolgados que outros. Há até imagens das tais bolas luminosas, e elas podem ser conferidas facilmente na internet. Pois bem. Como sempre costuma ocorrer, a realidade é bem menos empolgante do que as ideias conspiratórias. Não, não são ETs. Pelo menos por enquanto.

Os cientistas levantaram diversas hipóteses para desvendar o enigma de Porto Alegre, embora ainda não seja possível identificar com certeza a fonte que deu origem às luzes. A primeira delas envolve o bilionário sul-africano Elon Musk, que parece ter talento natural para se envolver em temas bombásticos. A suspeita é que o fenômeno tenha sido provocado por satélites Starlink, da SpaceX, a empresa do novo dono do Twitter. No fim de outubro, 54 equipamentos do grupo foram lançados da base espacial de Cabo Canaveral, na Flórida. Os dispositivos são usados para fornecer internet em áreas remotas, ajudando inclusive os ucranianos na guerra contra a Rússia. Atualmente, existem 3 505 unidades deles em órbita. Acredita-se que as luzes em Porto Alegre possam ser reflexo do Sol nos satélites de Musk.

arte Nasa

Não é só. Aquela região desperta a atenção da ciência graças a um fenômeno conhecido como “anomalia magnética do Atlântico Sul”. Em termos simplificados, trata-se de um falha — localizada bem sobre o sul do Brasil — no campo magnético que existe ao redor da Terra. A anomalia é estudada pela Nasa, a agência espacial americana, que acompanha mudanças em seu tamanho e como ela afeta a captação de dados por satélites e outros equipamentos que estão em órbita, como telescópios. Talvez — ninguém sabe ao certo, registre-se — a anormalidade tenha produzido algum efeito luminoso que resultou nas bolas piscantes vistas pelos pilotos das aeronaves. Mais improvável, embora não totalmente descartada pelos pesquisadores, é a tese de que canhões capazes de emitir feixes de luz de até 7 quilômetros teriam provocado o resplandecente efeito visual.

A dificuldade para encontrar respostas científicas rápidas para o fenômeno tem explicação. Na ciência, as hipóteses precisam ser confirmadas após a análise de todas as variáveis possíveis e depois do cruzamento de diferentes estudos a respeito de um evento específico. Nos últimos dias, as luzes sumiram, o que dificultou a avaliação mais criteriosa. Além disso, as imagens de vídeo não ajudam a desvendar o mistério, dado que mostram apenas uma luz surgindo e desaparecendo rapidamente. No vácuo da ciência, as teorias da conspiração avançam. “Em momentos como esse, a ufologia e a pseudociência apelam para o fascínio e oferecem explicações místicas, sem fundamentação, mas que fazem sucesso”, diz Thiago Signorini Gonçalves, astrônomo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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INTERESSE - Sede da Nasa, em Washington: a agência investiga os fenômenos -
INTERESSE - Sede da Nasa, em Washington: a agência investiga os fenômenos – (DCStockPhotography/Shutterstock)

Os crédulos e suas indagações tornam esses acontecimentos muito populares. Nos Estados Unidos, os casos mais célebres envolvem a base da Força Aérea conhecida como Área 51, localizada no deserto de Nevada. Em razão do sigilo dos projetos desenvolvidos por lá, especula-se que a divisão se dedique a estudar óvnis (objetos voadores não identificados) capturados pelos soldados americanos. Há também o incidente de Roswell: em 1947, o Exército recuperou pedaços de um balão que investigava explosões nucleares russas, mas a imprensa da época afirmou que se tratava de aeronave extraterrestre. No Brasil, o caso mais estapafúrdio é o do ET de Varginha, “encontrado” na cidade do sul de Minas Gerais. Embora muitas vezes as discussões caiam no ridículo, os pesquisadores acham que elas são importantes para, afinal, iluminar os debates. “Assim, aproveitamos para falar de ciência de verdade”, diz o astrônomo Thiago Gonçalves. Enquanto os ETs não dão as caras, o jeito é continuar olhando com atenção — e fascínio — para o que está acima de nós.

Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816

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