O manto tupinambá chegou ao Brasil. A peça do século XVII, que estava há mais de três séculos em um museu da Dinamarca, desembarcou em solo brasileiro sob sigilo há algumas semanas. A expectativa é que ele seja uma das principais peças do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, cujo prédio foi destruído por um incêndio em 2018.
A direção do museu confirmou as informações por meio de comunicado. “Nas próximas semanas, em data ainda a ser confirmada, após a adoção de todos os procedimentos necessários para a perfeita conservação dessa peça tão importante, e sagrada para nossos povos originários, apresentaremos o manto a sociedade”, disseram.
De acordo com informações vazadas antes do anuncio, o manto está submetido a um tratamento de anóxia, processo que o coloca em um ambiente de pouco oxigênio, com o objetivo de eliminar possíveis contaminações. A informação foi recebido com protesto por representantes indígenas, que não tiveram contato com a peça ao chegar ao Brasil. De acordo com eles, o artefato considerado sagrado deveria passar por rituais religiosos o mais rapidamente possível.
A doação foi anunciada no ano passado, depois de cerca de um ano de negociações. Com 1,80m de altura e milhares de penas vermelhas de pássaros guará, o manto tupinambá é uma peça imponente. Em Copenhague desde 1689, mas de origem que data, provavelmente, de quase um século antes, o manto estava guardado, ao lado de quatro outros, no Museu Nacional da Dinamarca.
Além do valor estético e histórico para o Brasil, a doação da peça representa o resgate de uma memória importante para o povo tupinambá. Os indígenas consideram o manto um material vivo, capaz de conectá-los diretamente com os ancestrais e as práticas culturais do passado.
Cooperação entre museus
Além da equipe do Museu Nacional e da embaixada do Brasil na Dinamarca, representantes dos tupinambás tiveram papel fundamental no retorno do manto. A previsão é que eles continuem participando ativamente da curadoria da peça e ajudando a pensar as melhores formas de exposição para o público. Estudiosos indígenas já vêm contribuindo para ampliar o conhecimento que se tem sobre esse tipo de vestimenta.
O Museu da Dinamarca e o do Brasil também negociam acordos de cooperação em iniciativas educacionais. Um dos projetos já previstos é a digitalização da coleção brasileira que está na instituição europeia. Quanto ao acervo físico, o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, diz que há um empenho para a instituição receba novas peças de valor histórico.
Segundo ele, o incêndio que destruiu o museu, em 2018, arranhou a imagem do país. Kellner entende que o Brasil tem a oportunidade de mostrar que aprendeu com a tragédia e merece repatriar outras peças. “E um dos pontos importantes é oferecer melhores normas de segurança para os visitantes e para o nosso patrimônio”.
(Com Agência Nacional)