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Fascínio por alienígenas dispara após audiência no Congresso dos EUA

Enquanto os fatos não emergem, as dúvidas sobre a existência ou não dos discos voadores continuam a fazer girar a imaginação do planeta

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 ago 2023, 10h39 - Publicado em 4 ago 2023, 06h00

O argumentum ad ignorantiam, em latim, é um conceito filosófico de muito sucesso nos tempos de hoje, de intensa polarização ideológica. É uma falácia segundo a qual provamos ser verdadeiro algo que não teve a falsidade comprovada, e vice-versa. Tomemos um exemplo: luzes coloridas se movimentando em alta velocidade no céu noturno; se não forem de um avião, um drone ou um satélite, só podem ser de uma nave extraterrestre.

A torta argumentação movida a ignorância ilumina o fascínio pelos alienígenas, os seres elusivos retratados em versos, músicas, livros, filmes e séries de sucesso. E mais: ajuda a entender o interesse mundial pela recente audiência pública do Congresso dos Estados Unidos sobre fenômenos aéreos não identificados (UAPs, na sigla em inglês), os objetos voadores não identificados (óvnis).

DENÚNCIA - Grusch (ao centro): ele alega ter acesso negado a documentos
DENÚNCIA - Grusch (ao centro): ele alega ter acesso negado a documentos (Drew Angerer/AFP)

Na ocasião, David Grusch, ex-funcionário do Departamento de Defesa, testemunhou perante um subcomitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos EUA. Ao seu lado estavam dois ex-pilotos militares aposentados: David Fravor, ex-comandante da Marinha que afirma ter visto um objeto estranho no céu durante uma missão de treinamento em 2004, e Ryan Graves, ex-oficial e atual diretor da organização não governamental Americans for Safe Aerospace, que disse ter presenciado fenômenos semelhantes na costa do Atlântico “todos os dias por alguns anos”. Os tópicos incluíram ameaças à segurança nacional, transparência do governo americano em torno das ocorrências e relatos de “contatos imediatos”.

O testemunho mais aguardado era mesmo o de Grusch, para quem as autoridades americanas têm ocultado informações sobre óvnis. O major aposentado disse que, em 2019, recebeu do chefe de uma força-tarefa do governo a missão de listar todos os programas secretos relacionados a fenômenos aéreos não identificados. Na época, ele foi destacado para o National Reconnaissance Office, agência que opera os satélites espiões do país. “Fui informado, no curso de minhas funções oficiais, de um programa de várias décadas para recuperação e engenharia reversa desses fenômenos, ao qual me foi negado o acesso”, disse em seu depoimento. Mais assustador foi a sua afirmação de ter sofrido retaliação por expor essas informações.

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MISTÉRIO - Área 51, em Nevada: testes atômicos e programas secretos
MISTÉRIO - Área 51, em Nevada: testes atômicos e programas secretos (David Becker/Getty Images)

Como a vida imita a arte, parece o enredo perfeito para um episódio de Arquivo X, a série de TV dos anos 1990 e 2000 famosa por mostrar dois agentes, Mulder (David Duchovny) e Scully (Gillian Anderson), no encalço desses programas secretos. As alegações de Grusch, que incluíram posse pelo governo americano de restos orgânicos não humanos e de naves extraterrestres, foram recebidas com ceticismo, tal qual os personagens do popular programa americano. Em um comunicado genérico e vago, a porta-voz do Departamento de Defesa, Sue Gough, disse que não há “nenhuma informação verificável para substanciar as alegações de que haja quaisquer programas relativos à posse ou engenharia reversa de materiais extraterrestres que existiram no passado ou que existem atualmente”. A negativa adiantou? Aparentemente não, porque o tema é adesivo e enigmático.

O administrador da Nasa, Bill Nelson, afirmou, em viagem à Argentina, que, diante de tantas suspeitas sobre alienígenas, reuniu dezesseis cientistas em torno de um comitê que usará os avançados recursos tecnológicos da agência espacial para analisar os fenômenos. “Esperem até o mês que vem para ter sua resposta”, disse Nelson, ao anunciar a divulgação de um relatório com os resultados da investigação. Enquanto os fatos não emergem, as dúvidas sobre a existência ou não dos “homenzinhos verdes” ou “discos voadores”, como disse o republicano Tim Burchett na audiência da semana passada, continuam a fazer girar a imaginação do mundo inteiro — seja nos desertos de Nevada, onde fica a misteriosa Área 51, palco de testes atômicos e outros programas secretos americanos, seja em Varginha, no interior de Minas, cidade em que se registraram nos anos 1990 incidentes envolvendo supostos ETs. E vivamos ao infinito e além o argumentum ad ignorantiam.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853

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