Quem vê fotos da Antártida tomada por uma imensidão de gelo não imagina que seu solo guarda registros de um período em que a vegetação local era atingida por grandes incêndios. Isso foi o que mostrou um artigo publicado nesta sexta-feira, 14, na Frontiers in Earth Science.
Apesar de hoje ser caracterizado pelo seu isolamento na região mais fria do planeta, o continente antártico já ocupou diferentes posições geográficas. Durante o período Cretáceo, quando os dinossauros ainda caminhavam pela Terra, a região era dominada por vasta vegetação e tinha uma intensa atividade vulcânica, configuração que culminou nas queimadas florestais.
A investigação de amostras paleontológicas da Ilha Rei George, localizada no sul na Península Antártica, revelou a presença de carvão vegetal fóssil, que resulta do processo de carbonização causado pelos incêndios. Nessa época, plantas como pinheiros e araucárias eram as mais frequentes e o fogo era provocado, não pelas lavas, mas pelo contato com as nuvens de cinzas aquecidas liberadas pelos vulcões.
Apesar de ser um dos continentes mais inóspitos para a biodiversidade, o clima extremo preserva características ambientais históricas, favorecendo investigações científicas que possibilitam a melhor compreensão da evolução natural do clima e do meio ambiente.
A descoberta foi fruto do trabalho de pós-doutorado da paleobotânica brasileira Joseline Manfroi, em parceria com pesquisadores chilenos, e revelou que esses incêndios foram importantes modeladores das florestas austrais e influenciaram a evolução e a biodiversidade dessa região do planeta.