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Fósseis brasileiros ajudam a resolver enigma da paleontologia; entenda

Análise revela que adaptações essenciais para a adaptação dos mamíferos não evoluíram de maneira linear

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 set 2024, 11h25 - Publicado em 26 set 2024, 07h09

A mordida é uma característica importante para a evolução dos mamíferos, o que inclui os humanos. Esse controle preciso, que possibilita a adequação da mastigação a diferentes tipos alimentares, se dá devido a articulação temporomandibular, ligação entre a mandíbula e o crânio. Essa, segundo os paleontólogos, é uma das principais diferenças entre nós e os outros vertebrados – e a descoberta de dois fósseis brasileiros jogam luz sobre como ocorreu essa transição.

A novidade foi publicada nesta quarta-feira, 25, na Nature, e mostra que essa adaptação não ocorreu de maneira linear, mas surgiu em vários momentos da evolução, de maneira diferente do que se imaginava até agora. “A aquisição do contato da mandíbula dos mamíferos foi um momento-chave na evolução”, disse James Rawson, pesquisador da Escola de Ciências da Terra de Bristol e coautor do artigo. “O estudo abre novas portas para a pesquisa paleontológica, pois esses fósseis fornecem evidências inestimáveis ​​dos experimentos evolutivos complexos e variados que, em última análise, deram origem aos mamíferos modernos.”

Qual a diferença entre mamíferos e outros vertebrados?

Enquanto os vertebrados no geral tem apenas um osso na região temporomandibular, o que torna a mordida menos adaptável, os três ossos presentes nos mamíferos permitiu a formação de músculos fortes que caracterizam a mordida desses animais. Mas quando foi que essa transição ocorreu?

Essa pergunta ainda não tem resposta, mas o estudo mais recente ajuda a dar pistas. Nele, pesquisadores investigaram fósseis do Brasilodon quadrangularis e do Riograndia guaibensis, antecessores dos mamíferos que pertenceram ao grupo Cynodontia e viveram há 225 milhões de anos. 

Ao analisar imagens de tomografia computadorizada do crânio fossilizado desses animais, foi possível ver que o R. guaibensis tem a estrutura bem semelhante ao dos mamíferos, com três ossos, como pode ser visto abaixo. O B. quadrangularis, por outro lado, tem apenas um osso, como observado nos répteis.

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Isso, no entanto, desfiou o que se imaginava. Pesquisadores teorizavam que essa adaptação surgiu em antecessores mais próximos dos mamíferos, de maneira linear no tempo. Acontece, no entanto, que o B. quadrangularis é mais próximo de nós, evolutivamente falando, do que o R. guaibensis. 

Isso sugere que os três ossos não apareceram em uma espécie e foram transmitidos aos descendentes. Na verdade, essa característica surgiu várias vezes ao longo da evolução. “O que esses novos fósseis brasileiros mostraram é que diferentes grupos de cinodontes estavam fazendo experiências com vários tipos de articulações mandibulares e que algumas características antes consideradas exclusivamente mamíferas evoluíram inúmeras vezes também em outras linhagens”, explica Rawson. 

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E não para por aí. Esse exemplo é, agora, o mais antigo registro desse tipo de articulação já descoberto, já que o fóssil é 17 milhões de anos mais antigo do que o anterior. 

Agora, pesquisadores querem continuar investigando esses animais e explorar melhor os sítios paleontológicos brasileiros em busca de novos fósseis. “Em nenhum outro lugar do mundo existe uma gama tão diversa de formas de cinodontes, intimamente relacionadas com os primeiros mamíferos”, afirmou Marina Soares, pesquisadora do Museu Nacional envolvida no artigo.

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