Nos últimos dias de junho, áreas do noroeste do Pacífico dos Estados Unidos e Canadá alcançaram temperaturas nunca antes observadas, com recordes quebrados em muitos lugares. Várias cidades nos estados americanos de Oregon e Washington e nas províncias ocidentais canadenses registraram temperaturas muito acima de 40°C – a cidade canadense de Lytton alcançou 49,6°C e foi consumida por incêndios. De acordo com um estudo recente da organização internacional World Weather Attribution, nada disso seria possível sem o aquecimento global provocado pela ação humana desde a Revolução Industrial.
Cientistas dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Holanda, França, Alemanha e Suíça colaboraram para avaliar em que medida as mudanças climáticas induzidas pelo homem tornaram esta onda de calor mais quente e mais provável. O estudo, ainda não revisado por pares, diz que antes da era industrial o calor extremo do final de junho na região era o tipo que não teria acontecido na civilização humana. E mesmo no mundo em aquecimento de hoje o calor era um evento que acontecia uma vez no milênio.
A equipe registrou observações do que aconteceu e alimentou 21 modelos de computador que executou várias simulações. Depois, projetaram um mundo sem gases de efeito estufa provenientes da queima de carvão, petróleo e gás natural. A diferença entre os dois cenários é a parte das mudanças climáticas. “Sem as mudanças climáticas, esse evento não teria acontecido”, disse à agência AP o líder do estudo, Friederike Otto, cientista climático da Universidade de Oxford.
O que torna essa onda de calor tão notável são os valores muito mais altos do que os registros antigos e do que os modelos climáticos haviam previsto. Os cientistas dizem que isso sugere que outros fatores relacionados às mudanças climáticas podem estar em jogo – e em lugares improváveis. “Todos estão realmente preocupados com as implicações deste evento”, disse à AP o coautor do estudo Geert Jan van Oldenborgh, cientista climático holandês. “Isso é algo que ninguém previu, que ninguém pensou ser possível. E sentimos que não entendemos as ondas de calor tão bem como pensávamos.”