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Estudo ilumina dia do choque de asteroide na Terra, há 66 milhões de anos

Poeira mineral espalhada pelo planeta provocou o inverno que mataria 75% da fauna e da flora — episódio crucial para entendermos os nós climáticos de hoje

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h07 - Publicado em 10 nov 2023, 06h00
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  • Era o melhor dos tempos para os dinossauros que habitavam a Terra. E então, há 66 milhões de anos, houve o pior dos dias. Uma enorme rocha de 12 quilômetros de largura, um asteroide hoje conhecido por um carnaval de consoantes e vogais, o Chic­xu­lub, despencou dramaticamente onde hoje está a Península de Yucatán, no México. O impacto — 4,5 bilhões de vezes maior do que o da bomba de Hiroshima — levou à extinção de 75% de todas as espécies de plantas e animais da Era Mesozoica, inclusive os cultuados dinossauros. A força da rocha teria liberado enxofre e ácido sulfúrico na atmosfera, atalho para intermináveis chuvas ácidas. O escudo barrou a entrada de luz solar, as nuvens deixaram o ambiente escuro, impedindo o processo de fotossíntese e a abrupta diminuição de temperatura, em longo e severo inverno. Daria um filme-catástrofe — como, aliás, deu, e muitos. Foi a senha para milhares de estudos, incontáveis montagens ilustrativas. O fascínio por aquela tragédia seminal ainda hoje alimenta a humanidade, entre o enigma e a investigação, em um mar de incertezas. Virou, é natural, assunto pop, de permanente interesse. Faça a experiência, é engraçado: ponha “Chicxulub” no Google. Vai aparecer um meteoro animado, vindo da esquerda para a direita, a caminho do pé da página, que chacoalha ao contato da pedra.

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    RIQUEZA - Nuvem de poeira de dióxido de silício: base para o quartzo, topázio e ametista produzidos no mundo hoje (Alenkar Bento/Getty Images)

    Aquele instante indizível não cansa de entregar segredos, e brotou agora uma novidade que aponta para uma compreensão inédita. Um estudo publicado na reputada revista Nature Geoscience informa que a poeira de sílica, ou o pó de dióxido de silício — e não o enxofre ou o ácido sulfúrico — é que teria acelerado e mantido o esfriamento. Em alguns trabalhos científicos, a sílica tinha sido posta em cena, mas foi logo esquecida. “Tê-la na equação de volta nos deixa até emocionados”, disse a VEJA o pesquisador-chefe do estudo, Cem Berk Senel, do Observatório Real da Bélgica. A extraordinária conclusão deu-se a partir da investigação de partículas preservadas em um sítio geológico do estado americano de Dakota do Norte, próximo da colisão primordial. A poeira mineral, levantada depois do choque, teria ficado em suspensão por até quinze anos e ela é que teria puxado os termômetros em pelo menos 15 graus. “Em até quatro anos houve um colapso das grandes espécies em decorrência do frio e da falta de alimentos”, diz Aline Ghilardi, paleoecóloga e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “É a extinção em massa mais rápida de que temos registro.” Mas se os efeitos foram tão profundos, como o um quarto de espécies restantes conseguiu passar ileso? O evento é uma das provas definitivas da teoria da evolução. Enquanto os seres dependentes apenas de plantas e frutos, assim como seus predadores diretos, foram mais afetados pelo fenômeno, os animais marinhos, que demoraram mais para sentir o efeito do frio, e os espécimes com padrões alimentares mais variados, como os então primitivos mamíferos, tiveram mais tempo para se adaptar. Prosperaram, portanto, os mais resilientes.

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    A revelação da poeira é celebrada por enxergar o que ocorreu lá atrás, claro, mas também por iluminar o futuro. “O conhecimento mais profundo em torno do fenômeno nos ajuda a compreender a morte dos dinossauros e outros animais, mas também a projetar possíveis crises climáticas”, diz Berk Senel. Por óbvio, o que se supunha para o estrago provocado anteriormente pelo Chicxu­lub foi sempre relevante — e, ressalve-se, não é o caso ainda de abandonar a tese do enxofre e do ácido sulfúrico. Contudo, ao cravar a liberação no ar da sílica — que, aliás, em sua forma cristalina dá origem ao quartzo, ao topázio e à ametista, e que pode ser vista em profusão em diversos cantos do mundo —, os cientistas conseguem ser assertivos, ao ter certeza de que as grandes extinções são causadas por alterações drásticas da natureza. É impossível evitá-­las, mas convém não incentivá-las, daí a importância de, hoje, manter atenção para as mudanças climáticas aceleradas pelo ser humano. Eis a beleza da descoberta: saber o que houve há 66 milhões de anos é atalho para enxergar o aqui e agora, olhando para a frente.

    Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867

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