Seria possível criar um sistema global de paz para abolir a guerra do planeta? Sim, de acordo com americano Douglas Fry, professor de antropologia da Universidade Åbo Akademi, na Finlândia. O pesquisador é um dos que concordam com a ideia de que o ser humano não foi feito para guerrear.
Em um artigo publicado nesta sexta-feira na revista Science, Fry argumenta que basta seguir o exemplo de três sociedades plurais que nunca recorreram à guerra para resolver seus problemas internos. Para Fry, um dos fatores essenciais para um planeta pacífico é a construção de uma identidade abrangente, independente da nação. Isso já ocorre em menor escala com as 10 tribos que vivem na bacia norte do Rio Xingu, na Amazônia, com os índios norte-americanos da Confederação Iroquois e com a União Europeia.
A partir delas, seria possível destacar sete indicadores (como identidade social e governança abrangentes, interdependência e valores para a paz) que poderiam guiar políticas públicas para a criação de um sistema que garanta a paz no mundo.
Paz no mundo
Em quase todos os continentes é possível encontrar povos que conseguem viver pacificamente entre si. São grupos de sociedades vizinhas que não fazem guerra. O estudo da Science mostra em quais partes do mundo viver em paz já é possível, mesmo entre culturas completamente diferentes. Clique nos pontos azuis para saber quais são:
As três sociedades agrupam populações distintas com costumes e línguas diferentes. Apesar de essa organização promover uma mentalidade ‘nós-contra-eles’, o que facilita a hostilidade contra grupos externos, ela mantém a paz entre as nações-membro.
Sem utopia – “Esses exemplos não são utopia, eles representam agrupamentos do mundo real de sociedades distintas que vivem juntas sem recorrer à guerra e em um sistema de paz”, escreve o antropólogo. Fry sugere a construção de uma mentalidade ‘nós’ (Terra) contra ‘eles’ (qualquer coisa fora dela), para a manutenção da paz mundial.
Para esclarecer a criação de um sistema de paz mundial, o autor cita o 33º presidente dos Estados Unidos, Harry Truman. “Quando dois estados americanos disputam um recurso natural, eles não recorrem às suas polícias estaduais, mas à Suprema Corte do país”, escreveu. “Não existe uma única razão para que isso não seja feito em nível internacional.”
A conclusão do antropólogo flerta com alguns conceitos que normalmente são reforçados em discursos religiosos, e que agora ganham espaço nas páginas de uma revista científica. “Construir um sistema de paz para o planeta inteiro envolveria o entendimento de que a resolução dos desafios requer cooperação e um nível de identidade que inclui todos os seres humanos além do mero patriotismo.”