Uma estrela que vem intrigando cientistas acaba de ganhar uma nova explicação para seu brilho misterioso. Astrônomos sugerem que um planeta com anéis, parecido com Saturno, estaria orbitando a estrela desconhecida, fazendo com que parte de sua luz fosse bloqueada. Chamado KIC 8462852, o corpo luminoso ganhou destaque em 2015, depois de uma equipe de pesquisadores americanos descobrir que seu brilho oscilava anormalmente, como se algum objeto estivesse impedindo a passagem da luz de maneira irregular. Entre as diversas suposições para tentar explicar esse estranho comportamento, nenhuma de caráter conclusivo, a mais popular diz respeito a uma gigantesca construção alienígena que poderia estar envolvendo a estrela, localizada entre as constelações de Cisne e Lira, a 1.500 anos-luz da Terra (cada ano-luz equivale a 9,46 trilhões de quilômetros).
A mais nova hipótese, porém, é menos fantástica: propõe que as oscilações no brilho do corpo celeste seriam causadas por um planeta com anéis, que bloqueia irregularmente a luz da estrela toda vez que passa por ela. Nesse cenário, primeiro os anéis bloqueariam parte do brilho. Depois o planeta passaria pelo astro, diminuindo ainda mais a quantidade de luz que chega à Terra. Então, os anéis bloqueiam parte da luz novamente. Segundo astrônomos da Universidade de Antioquia, na Colômbia, que formularam a hipótese, isso explicaria por que os padrões de oscilação não se repetem, uma vez que os anéis passam a um ângulo diferente a cada vez e seria necessário fazer muitas observações para identificar uma repetição.
Fenômeno misterioso
O comportamento incomum da KIC 8462852 foi percebido por uma equipe de pesquisadores liderada por Tabetha Boyajian, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em outubro de 2015. Astrônomos sabem que uma variação periódica de 1% no brilho de uma estrela é comum e normalmente é causada por um planeta que orbita o astro. Porém, no caso da KIC 8462852, o que mais surpreende é que essas quedas são bem maiores, podendo chegar a 22% – o que levou pesquisadores a pensar que algo muito grande estaria interferindo no brilho da estrela.
Estudos posteriores chegaram a sugerir que essa oscilação poderia ser causada por um ‘enxame’ de cometas ou até por um planeta que a estrela teria engolido 10.000 anos atrás e só agora estaria liberando a energia gerada pela colisão. Outros ainda afirmam que uma grande quantidade de lixo cósmico, espalhado no caminho entre a Terra e KIC 8462852, seria responsável por bloquear parte da luz da estrela e dar essa impressão de que o astro estaria “piscando”.
Para testar a teoria do planeta com anéis, descrita em um artigo que está passando por revisão e será publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (MNRAS), o astrônomo Mario Sucerquia e sua equipe simularam o comportamento que a luz teria caso um corpo celeste rodeado de anéis passasse pela estrela a cerca de um décimo da distância da Terra ao Sol. Eles descobriram que, a essa proximidade, a estrela exercia uma força sobre os anéis que fazia com que eles também oscilassem. Isso tornaria a silhueta dos anéis vista por um observador terrestre ainda mais irregular de trânsito em trânsito.
Sucerquia afirma que também existem outras possíveis explicações para a anormalidade no brilho de KIC 8462852 – incluindo uma lua que poderia estar orbitando esse planeta. “O objetivo deste trabalho é mostrar à comunidade que existem mecanismos que podem alterar as curvas de luz”, diz Sucerquia, em entrevista ao New Scientist. “Essas mudanças podem ser geradas pela dinâmica de luas ou anéis, e alterações nesses sistemas podem ocorrer em escalas tão pequenas que devem ser detectadas só daqui a alguns anos.”