Lentamente, a Terra, a Lua e o Sol se alinharam perfeitamente, e por dois minutos e oito segundos o dia se fez noite. O raro eclipse solar total aconteceu na segunda-feira 14, na região mais meridional da América do Sul, e nem a pandemia impediu que multidões saíssem de casa para ver o fenômeno que fascina a humanidade desde que o mundo é mundo. O ponto de melhor exposição foi uma faixa do oceano Pacífico, do Chile e da Argentina. Na cidade de Pucón, 800 quilômetros ao sul de Santiago, 300 000 pessoas desafiaram a proibição de aglomerações e de deslocamentos para ver a Lua se interpor entre o Sol e a Terra e tudo escurecer. Por pouco não se frustraram: fortes chuvas caíram no local durante toda a manhã. Mas, como por milagre, o tempo abriu justo na hora do espetáculo. No Brasil, o eclipse foi observado principalmente no Rio Grande do Sul, onde mais da metade do disco solar ficou encoberta.
Tema de profecias e superstições, os eclipses também estão na mira de inúmeras pesquisas científicas. Em 1715, o astrônomo inglês Edmund Halley (o mesmo do cometa) descobriu que eles produzem alterações na temperatura e na umidade atmosférica. Sabe-se ainda que alteram a velocidade e a direção dos ventos, provocam reações químicas nas plantas e assustam os animais. Na segunda-feira, os índios mapuches, de forte presença no sul do Chile, passaram o dia em rituais e orações. Para eles, eclipses significam o fim de uma era. Se for a do novo coronavírus, todos ficaremos agradecidos.
Publicado em VEJA de 23 de dezembro de 2020, edição nº 2718