O RNA, molécula que armazena e transmite informações genéticas e ajuda a sintetizar proteínas, é essencial à vida como a conhecemos. Em relação a ela, cientistas se dividem em dois grupos: os que acreditam que formas de vida originaram de moléculas mais simples e posteriormente evoluíram para o RNA, e os que buscam provas de que o RNA se formou primeiro.
Os quatro nucleotídeos que compõem o RNA — adenina, guanina, citosina e uracila — podem ajudar a desvendar o mistério. Pesquisadores fizeram bastante progresso em relação a encontrar precursores para a citosina e a uracila, mas o passado dos outros dois compostos permaneciam no escuro. Pelo menos até agora.
Em um artigo publicado no periódico PNAS no dia 3 de dezembro, Jack Szostak, professor de biologia química de Harvard, nos Estados Unidos, revelou que o RNA pode ter começado com um conjunto diferente de bases nucleotídicas. No lugar da guanina, a molécula podia possuir um substituto: a inosina.
Os pesquisadores chegaram aos seus resultados depois de conseguirem produzir, em laboratório, versões de adenosina e inosina a partir de materiais disponíveis na Terra antiga. Assim, os cientistas começaram a investigar se o RNA construído com essas bases poderia se replicar de forma eficiente.
E foi o caso. A molécula não apenas conseguia se copiar, mas o fazia de forma rápida e com poucos erros — como deve ser, quando se trata de um processo necessário para a vida e sua evolução.
Dessa forma, a descoberta pode ajudar a sustentar a teoria de que a vida surgiu do RNA. Ainda há, é claro, muito trabalho a ser realizado em cima desse estudo: é preciso, por exemplo, investigar mais a fundo as outras bases nucleotídicas e a própria viabilidade da inosina. Caso seja comprovada, no entanto, a pesquisa pode ter indicado um ingrediente essencial ao surgimento da vida na Terra.