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Conversa mole para insone dormir: conheça o fenômeno ASMR

Youtubers ganham fama e dinheiro com vídeos em que sussurram banalidades e fazem barulhinhos para ajudar a pegar no sono. Tudo com base na neurociência

Por Bruna Motta
Atualizado em 17 out 2019, 18h46 - Publicado em 11 out 2019, 06h00

Se você estiver usando um momento de folga para ver esquisitices do YouTube e topar com o rosto de alguém em close, falando baixinho e produzindo barulhinhos com a boca e as mãos, não se assuste: é só uma sessão de conversa mole para insone dormir. Entre sussurros e estalar de dedos, youtubers em toda parte vêm arrebanhando milhões de seguidores — e ganhando dinheiro — com essa técnica de acalmar e induzir sono, calcada, por incrível que pareça, em conhecimentos da neurociência: o visual e os sons utilizados estimulam uma sensação prazerosa identificada como “resposta meridional sensorial autônoma”, ou ASMR, na sigla em inglês. “É um cafuné virtual”, resumiu para VEJA a paulista Mariane Carolina Rossi, de 26 anos, que tem 1,5 milhão de inscritos em seu canal Sweet Carol.

Formada em enfermagem, Mariane nunca exerceu a profissão. Começou no YouTube se maquiando, a porta da felicidade para as legiões de meninas (e alguns meninos) que sonham em conquistar o planeta YouTube. Há quatro anos, um seguidor, fascinado com sua voz doce, sugeriu que aderisse à ASMR. Ela foi pesquisar e encontrou centenas de vídeos de pessoas estourando plástico-bolha, manuseando talheres, cortando barras de sabonete. “Achei o meu mundo”, empolga-­se. A maioria dos vídeos para dormir que usam ASMR enquadra só o rosto — às vezes, só a boca. Além de emitir os sons, o youtuber costuma fazer gestos que imitam um contato físico afetivo. Muita gente relata sentir um formigamento agradável que se inicia na cabeça e desce pela nuca até as costas.

A neurociência explica que esse tipo de resposta acontece porque o cérebro humano está se adaptando ao mundo novo de constante alternância entre a realidade física e a virtual. Os barulhos atuam sobre o sistema nervoso parassimpático, responsável por estimular ações como a desaceleração dos batimentos cardíacos e a redução da pressão arterial e da adrenalina. “É um sistema muito ligado à memória emocional. Palavras de afeto sussurradas nesse contexto são percebidas como coisa real”, diz o neurologista Ariovaldo Junior. Um alerta: a luz dos aparelhos eletrônicos impede a ação da melatonina, hormônio responsável pelo sono, e pode anular o efeito entorpecente dos barulhinhos.

O YouTube contabiliza 12,7 milhões de vídeos dedicados à ASMR, alguns com mais de 20 milhões de visualizações. A estudante catarinense Larissa Pimenta, de 21 anos, descobriu a ASMR aos 15. “Tenho dificuldade para dormir, e os vídeos me ajudam. Mas procuro dar uma pausa de uma semana todo mês”, ensina. O intervalo é recomendado, já que o cérebro se acostuma com os sons e eles deixam de ter impacto. O cardápio de situações oferecidas é variadíssimo. Maycon Sagaz, 33 anos, de Florianópolis, grava cinco vídeos por semana, a maioria simulando — acreditem — uma consulta médica.

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NAMORADINHO – Dennis, gravando em casa: aos 18 anos, celebridade com seus recados afetuosos de fim de noite (Hunter McRae/The New York Times/Fotoarena)

Vestindo jaleco branco, Maycon finge, por exemplo, fazer um “exame de nervos” (título da obra). “Vê se você consegue enxergar as letrinhas neste papel”, sussurra, sem pressa nenhuma. “Agora vou te dar um remedinho”, prossegue, sacudindo um líquido em um vidrinho. Com isso, ostenta mais de 200 000 visualizações. A especialidade da Sweet Carol são os barulhos feitos com a boca e os toques suaves em objetos grudados ao microfone. Tanto Mariane Carolina quanto Maycon vivem de seu canal. O YouTube paga 1 dólar a cada 1 000 visualizações. Mariane aceita anúncios.

Outra situação que surfa esse filão em que vídeo bom é o que faz dormir simula um blá-blá-blá afetuoso entre namorados na linha ASMR. O americano Owen Dennis, de apenas 17 anos, que mora com os pais e grava seus vídeos em casa, atrai 500 000 seguidores pronunciando ao pé do ouvido, de mansinho, frases como “você fica ainda mais linda sem maquiagem” e melosidades afins. “Meus fãs me tratam como se fosse um namorado de verdade. A maioria dos comentários vem em tom de flerte”, disse a VEJA. Maycon, o “médico”, também já encarnou o namoradinho doce, mas desistiu. “Comecei a receber muitas fotos de pessoas nuas”, reclama. Durma-­se com um barulho desses.

Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656

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