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Como um pesquisador britânico quer revolucionar as cores

Usando uma rede de nanoestruturas, o zoólogo Andrew Parker quer produzir as chamadas cores estruturais, que refletem a luz e produzem tons mais complexos

Por Marilia Monitchele
28 dez 2022, 10h37

O zoólogo e artista inglês Andrew Parker tem um objetivo ambicioso: criar as cores mais vívidas e brilhantes que o olho humano possa ver. Pesquisador da Universidade de Oxford, ele acredita que as melhores cores do mundo não são derivadas de pigmentos ou corantes, mas de materiais organizados em nanoestruturas cristalinas que espalham luz, formando as chamadas cores estruturais.

As primeiras cores estruturais foram identificadas em penas de pavão, ainda no século XVII, mas foi a invenção do microscópio que permitiu identificar seu funcionamento. Enquanto os pigmentos e corantes formam moléculas que absorvem diversos comprimentos de luz, exceto aqueles que compõem a cor que nos é visível, a cor estrutural depende de uma intrincada rede de nanoestruturas pouco maiores que um átomo. As cores estruturais, portanto, não absorvem a luz, mas refletem comprimentos de onda específicos, resultando em tons muito mais complexos.

Quando comparadas aos pigmentos, as cores estruturais oferecem muitas vantagens. As nanoestruturas podem ser controladas, permitindo o ajuste de matiz, brilho e ângulos de reflexão. Além disso, elas são uma alternativa mais ecológica e segura, tendo em vista que muitos pigmentos são extraídos da terra e alguns, como os que resultam em tons como amarelo e vermelho, derivam do cádmio, uma substância tóxica. Outra vantagem é a durabilidade. Pigmentos e corantes geralmente desbotam com o passar do tempo e a exposição às intempéries, enquanto as cores estruturais tendem a preservar seus tons, desde que as nanoestruturas que as compõem permaneçam intactas.

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Tênis Air Jordan 3 RTNA feitos com folhas de Pure Structural Color – (Nike/Divulgação)

O grande desafio, no entanto, tem sido reproduzir esses benefícios em maiores proporções. Embora já existam técnicas de reprodução em laboratório, a produção em escala industrial ainda está um pouco distante. Também tem sido difícil estabelecer tons uniformes, que permaneçam os mesmos de todos os ângulos. A Lifescaped, empresa fundada por Parker em 2015 com o apoio do Rei Charles III, então príncipe da Grã-Bretanha, tem feito o possível para superar esses reveses e já desenvolveu um método para reproduzir suas cores em folhas. Em uma fábrica na Inglaterra, Parker garante produzir as cores mais brilhantes do mundo, refletindo 100% da luz. “Não é possível ficar mais brilhante”, diz o pesquisador em entrevista a Smithsonian Magazine.

O empenho de Parker em criar cores mais complexas já despertou o interesse de grandes marcas, como a Nike, que usou as folhas do que ele chama de “Pure Structural Color” na superfície de um par protótipo de Air Jordans. Uma parceria com uma empresa química suíça já permite que Parker reproduza suas cores em tintas, possibilitando a aplicação em uma variedade maior de objetos que não poderiam ser cobertos por suas folhas e já tem uma companhia aérea interessada em substituir os pigmentos tradicionais de suas aeronaves por cores estruturais.

Apesar do destaque da empresa de Parker e de seu empenho pessoal em revolucionar a indústria de cores, ele não está sozinho nesse segmento. Trabalhos similares com cores estruturais são desenvolvidos por pesquisadores do MIT e da Universidade de Cambridge. Todos estão otimistas quando se trata da substituição de pigmentos tradicionais por cores estruturais. E acreditam em um futuro tão colorido quanto a visão humana pode captar.

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