A forma e o tamanho do nariz são o resultado da adaptação aos diferentes tipos de clima na Terra. Segundo pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista científica PLOS Genetics, as populações de áreas com o clima quente e úmido têm tendência a apresentar um nariz maior do que as de regiões frias e secas. A análise é a primeira a ser feita em indivíduos vivos e indica que, mais que uma diferenciação genética, o formato do nariz é uma adaptação ao ambiente. O estudo é importante pois abre caminho para a compreensão de como certas doenças podem estar relacionadas a esse ajuste humano ao ambiente.
A explicação para a diferença seria que o nariz mais estreito, como o dos europeus, tem a função de umedecer e aquecer o ar antes de ele descer pela faringe e traqueia em direção ao pulmão, impedindo o surgimento de doenças respiratórias. Ou seja, quanto mais fino o nariz dos europeus, melhor sua sobrevivência. De acordo com os autores, segundo a teoria da seleção natural, a característica persistiu e se desenvolveu conforme o processo de evolução, podendo ser observada até hoje.
Nariz adaptado
A ideia de que o formato do nariz está ligado ao clima do ambiente, entretanto, não é nova. No fim do século XIX, o anatomista britânico Arthur Thompson havia sugerido a correspondência entre o formato do nariz e o clima. “Segundo ela, narizes longos e finos apareceram em áreas secas e frias, enquanto narizes curtos e largos ocorreram em áreas quentes e úmidas. Muitas pessoas testaram a questão com medidas do crânio, mas ninguém tinha feito medições em pessoas vivas”, explicou Mark D. Shriver, um dos autores do estudo e professor de antropologia e geneticista da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em comunicado.
Para testar se a adaptação ao clima seria responsável pelo formato do nariz humano, os pesquisadores analisaram as medidas de, pelo menos, quarenta pessoas nativas de quatro regiões do globo: Oeste africano, Leste e Sul asiáticos e Norte europeu. A escolha dessas áreas foi feita em razão da distância entre elas e da diferença observável nos rostos dessas populações. As medições levaram em conta características como a largura das narinas, a área e a distância entre elas, a altura e área externa do nariz. A análise foi feita com imagens faciais em 3D. Os pesquisadores também consideraram o clima das quatro regiões.
Comparando essas medidas à temperatura e à umidade absoluta dos diferentes locais, os cientistas perceberam a forte correlação entre as características faciais dos avaliados e sua distribuição espacial. Observou-se que narizes mais largos são mais comuns em lugares mais quentes e úmidos e, os mais finos, em lugares secos e frios.
Os cientistas ainda acreditam que outros fatores podem influenciar o formato nasal, como a seleção sexual. Isso porque as preferências culturais na escolha do parceiro sexual podem ter contribuído para a expressiva diferença entre as regiões.
Além de destrinchar esse processo evolutivo, a adaptação das fossas nasais ao clima pode ter repercussões médicas e antropológicas. O aprofundamento da questão pode revelar se a forma e o tamanho da cavidade nasal estão ligados ao risco de contrair uma doença respiratória quando a pessoa vive em um clima diferente do de seus ancestrais.
“Os estudos sobre a adaptação humana ao meio ambiente são essenciais para nossa compreensão das doenças e poderão esclarecer as origens de certas patologias, como a anemia por células falciformes, a alergia à lactose ou o câncer de pele, mais frequentes em certas populações”, destaca Arslan Zaidi, coautor do estudo e pesquisador do departamento de Antropologia da Universidade Estadual da Pensilvânia.
(Com AFP)