Há cerca de 40 anos, a humanidade se deu conta de que precisaria reverter o buraco na camada de ozônio, faixa da atmosfera responsável por proteger os seres vivos da radiação solar. O Protocolo de Montreal, que propôs o banimento total dos gases responsáveis pelos danos, foi considerado um dos mais bem sucedidos do mundo, mas um estudo divulgado nesta quinta-feira, 23, aponta que essa região da atmosfera da Antártica vem reduzindo desde 2004.
A ocorrência do buraco é sazonal, e, geralmente, ele é aberto em agosto e se fecha em novembro. De acordo com o trabalho, publicado na renomada Nature Communications, a análise da quantidade de ozônio em outubro, quando esta fase chega ao seu ápice, mostra uma redução drástica de 26% desde 2004. “Isto significa que o buraco não só permaneceu grande em área, mas também se tornou mais profundo durante a maior parte da primavera antártica”, afirma a autora do artigo Hannah Kessenich, em nota.
Alguns pesquisadores, no entanto, ainda não estão confiantes nesses resultados. Isso acontece, porque apesar da tendência de recuperação que os últimos relatórios mostraram, em 2019 houve uma quebra repentina dessa camada de proteção. “Não estou convencido dos resultados do estudo”, afirma, em nota, o pesquisador do Centro de Pesquisa em Mudanças Climáticas da Universidade de Nova Gales do Sul, Martin Jucker. “Os resultados se baseiam fortemente nos grandes buracos que vimos em 2020-2022, mas a literatura já encontrou razões para eles: a fumaça dos incêndios florestais de 2019 e uma erupção vulcânica.”
De fato, o aquecimento da atmosfera e a presença de partículas podem afetar o ozônio, que é considerado um gás instável e facilmente reativo. Apesar disso, os fatores que interferem nessa sazonalidade ainda precisam ser melhor compreendidos e pesquisadores consideram inquestionável que mudanças na atmosfera, independentemente da origem, pode afetar essa camada.
Protocolo de Montreal
O acordo para proteção da camada de ozônio foi estabelecido em 1987 e define que até 2010 todos os clorofluorcarbonetos (CFCs) fossem banidos da indústria.
Esse tipo de gás, então utilizado em aerossóis e equipamentos de refrigeração, persiste na atmosfera por centenas de anos, onde colabora com o efeito estufa e reage com o ozônio, sendo o principal responsável pelo buraco percebido.
A camada de ozônio é essencial para a vida na Terra, porque ela funciona como um filtro à radiação solar, especificamente, os raios ultravioletas. A exposição a esse tipo de onda, quando não moderada, pode causar envelhecimento precoce, o câncer de pele e problemas à visão.
Apesar dos esforços, um estudo publicado em abril revelou que a emissão desses gases voltou a aumentar. Embora os níveis ainda fossem baixos e a origem desconhecida, eles colocaram a comunidade científica em alerta para a recorrência dos danos presenciados no passado.