Barco costurado a mão que naufragou há 3 mil anos começa a ser recuperado
Zambratija ficou preservado por todo esse tempo em região superficial do mar adriático
Em 2008, um pescador do condado de Ístria, na Croácia, viu algo estranho despontando na areia, no fundo de uma região costeira do mar Adriático. Ao consultar pesquisadores do Museu Arqueológico da Ístria, descobriu que se tratava, na verdade, de uma antiga embarcação, completamente costurada a mão. Agora, esse barco está sendo resgatado para ser estudado e exposto para a população.
“Nós pensamos que a embarcação datava do período romano, entre primeiro e segundo século depois de Cristo”, disse a Veja a especialista em arqueologia marítima responsável pela recuperação do barco, Giulia Boetto. “Mas nós fizemos a datação por radiocarbono e descobrimos que é muito mais antigo – entre fim da idade do bronze e início da idade do metal.”
Isso significa que o pequeno navio foi construído entre o século XII e o século X antes de Cristo e, portanto, se manteve preservado por três milênios. O estado de conservação é realmente surpreendente: sete dos 12 metros totais da estrutura estão intactos – e mantê-la assim será um desafio.
O barco, que recebeu o nome de Zambratija, em homenagem a vila em que foi encontrado, é comporto por um tipo maleável de madeira e costurado com fibras vegetais. No mar, onde esteve enterrado sob uma camada de areia a meros dois metros e meio de profundidade, ficou preservado pela água e pelo sal.
Desde 2013, quando as escavações do barco terminaram, os pesquisadores planejam sua recuperação, mas esse é um processo caro e delicado, portanto, mantê-lo onde ficou nos últimos 3 mil anos pareceu ser a melhor solução. “Quando você planeja uma recuperação desse tipo, precisa ter certeza que vai ser possível tratar e conservar esse material para que ele não seja destruído”, explica Boetto.
Agora os envolvidos finalmente encontraram as condições ideais para a recuperação da embarcação, que começou no último domingo, 02. Durante as próximas duas semanas o material será retirado do mar e, ainda na Croácia, passará por um processo de dessalinização. Posteriormente, o barco será enviado para a França, onde, durante dois anos, os pesquisadores trabalharão na conservação do material, o que envolve a substituição da água que está infiltrada na madeira por uma resina mais resistente.
Esse estudo será importante para descobrir com maior precisão quando o barco foi construído e que materiais foram utilizados para a sua fabricação. Ao final do processo a estrutura será restaurada e ficará exposta em um museu croata. Os pesquisadores também esperam conseguir construir uma réplica da embarcação.
“Nós estamos no início de uma grande aventura com esse barco”, afirma Boetto com entusiasmo. Também coordenam a pesquisa Ida Koncani Uhač, do Museu Arqueológico da Ístria, Marko Uhač, do Ministério da Cultura e de Mídia da Croácia e Pierre Poveda, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.
Esse é apenas um dos exemplos do quanto da história da humanidade está escondida sobre a água salgada que cobre 70% do planeta Terra, não apenas nas regiões profundas, onde o frio e a escuridão são um desafio, mas também nas áreas mais próximas e superficiais.