A primavera em que os dinossauros foram extintos
Estudo com fósseis preservados aponta a época do ano em que o meteorito se chocou contra a Terra e dá pistas de como alguns seres escaparam da extinção

O período em que os dinossauros andavam livremente pela Terra acabou no auge da primavera, quando um meteorito se chocou contra o planeta no hemisfério norte, provocando uma onda de devastação e um inverno global. É o que diz um estudo que acaba de ser publicado na revista Nature.
Para chegar a essa conclusão, um grupo composto por pesquisadores das Universidades de Uppsala, na Suécia, Vrije, em Amsterdã, Vrije, em Bruxelas, e do European Synchrotron Radiation Facility (ESRF) analisou fósseis de peixes-remo e esturjões encontrados na região de Tanis, no estado norte-americano de Dakota do Norte.
Quando o meteorito conhecido como Chicxulub se chocou contra a Terra, provocou ondas que mobilizaram enormes quantidades de sedimentos. Os peixes foram soterrados vivos menos de uma hora após o choque inicial e esses resíduos preservaram seus corpos de maneira impressionante, incluindo tecidos moles. Usando raios-X de Síncrotron (um tipo de acelerador de partículas), os especialistas puderem analisar o perído em que eles viviam no momento do impacto.
“Esses ossos registraram crescimento sazonal muito parecido com as árvores”, afirmou Sophie Sanchez, da Universidade de Uppsala. Por isso, conseguiram identificar a estação do ano em que o evento de extinção aconteceu.
A partir desses dados, os pesquisadores esperam obter mais respostas sobre os motivos que causaram a morte de dinossauros, pterossauros e a maioria dos répteis marítimos, mas preservaram outras formas de vida, como mamíferos, aves, crocodilos e tartarugas. Agora se sabe que a extinção começou durante a primavera no hemisfério norte, um período sensível para organismos do Cretáceo Superior, incluindo o início dos ciclos de reprodução. E como o outono no hemisfério sul coincide com a primavera no hemisfério norte, a preparação para o inverno pode ter apenas organismos protegidos no hemisfério sul.
Como se a descoberta não fosse suficientemente surpreendente, há ainda uma polêmica acadêmica por trás da divulgação do estudo. As conclusões da equipe de pesquisadores são extremamente semelhantes aos achados de outro time, totalmente independente, que também escavou a região de Tanis. O estudo, liderado pelo professor Robert DePalma, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, foi divulgado originalmente em 2019. Um não cita o outro, e os pesquisadores desse novo trabalho afirmam que enviaram os resultados para revisão antes de DePalma. O professor da instituição britânica afirma que está preparando outro artigo que deve incluir detalhes omitidos no estudo original. E afirma que os diferentes trabalhos de equipes distintas são complementares e apenas reforçam a descoberta.