Tráfico cobra taxa de água em favelas do Rio
Grupos de criminosos controlam redes clandestinas que fornecem água para favelas do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense
Moradores de favelas do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense pagam uma taxa para grupos de traficantes e milicianos para usar água captada de redes clandestinas, que são controladas pelos criminosos e abastecem os locais. Reportagem da edição desta sexta-feira do jornal Folha de S. Paulo flagrou esse tipo de prática nas favelas do morro São João e do morro da Matriz , na Zona Norte do Rio, onde cada residência paga 15 reais para ter direito à água. As duas favelas, que são vizinhas, possuem uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
“Não podíamos ficar sem água esperando por uma obra que nunca chegava”, afirma Jacirema da Silva Alperio, presidente da associação de moradores do morro da Matriz. A entidade informou que o dinheiro recolhido dos moradores é investido na manutenção da rede ilegal, mas a polícia investiga se o tráfico lucra com o serviço. As duas favelas têm, juntas, 2.000 casas, gerando uma receita de 30.000 reais com as taxas.
A Polícia Civil também apura denúncias de que milicianos estejam agredindo moradores que não pagam pelo fornecimento irregular de água no condomínio Zaragoza, do Minha Casa, Minha Vida, na Zona Oeste do Rio.
Por causa da crise hídrica, que atinge principalmente a Região Sudeste, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) deflagraram nesta semana uma operação, batizada de “Água Legal”, para combater os “furtos de água” na região. Ação semelhante é realizada em São Paulo a partir de uma parceria entre polícia e a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp). Em apenas três dias, dezesseis pontos de redes clandestinas foram identificadas no Rio, mas nenhum deles localizava-se em favelas.
“Ainda estamos neste caminho da regularização em algumas comunidades. Isso sempre é difícil para as concessionárias quando o crime está presente, mas as UPPs possibilitam a formalização”, afirmou o presidente da Cedae, Jorge Briard. A Companhia estima que há cerca de 10.000 redes ilegais na capital carioca.
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