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Serralheiros venderam milhões de reais em notas frias a consórcio

Operação Descarte revela que pequenos comerciantes faziam parte do esquema de lavagem de dinheiro e recebiam R$ 2.000 para 'emprestar' seus nomes

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 1 mar 2018, 18h46 - Publicado em 1 mar 2018, 18h45

A Receita Federal identificou que modestos serralheiros e mecânicos de bicicleta detinham o “controle” de empresas que venderam notas fiscais frias em valores milionários ao Consórcio Soma, prestador de serviços de limpeza contratado pela Prefeitura de São Paulo em 2011.

Segundo a Operação Descarte, deflagrada pela Receita e pela Polícia Federal nesta quinta-feira, “laranjas” de empresas de fachada ganhavam 2.000 reais para emprestar o nome e irrigar um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro.

“Auditores fiscais identificaram que de 14 empresas fornecedoras para o Consórcio Soma, todas tinham forjado emissões de notas fiscais, emitido notas fiscais fraudulentas de mercadorias que nunca existiram, que nunca entraram no consórcio. Dessas 14 empresas, nem todas eram empresas fantasmas puras, algumas tinham um pouco de atividade operacional”, afirmou o auditor da Receita Flávio Correa Prado.

“Dessas empresas que tinham laranjas no quadro societário, uma tinha um serralheiro como o titular de uma empresa que movimentava mais de 20, 30 milhões por ano. Outra empresa tinha um colega desse serralheiro, que trabalha na mesma serralheria com uma empresa que também movimenta dezenas de milhões de reais por ano”, relatou Prado.

O auditor destacou que a mulher desse segundo serralheiro também era titular de uma empresa que igualmente movimentava milhões de reais. “Os mecânicos de bicicleta que trabalhavam ao lado da serralheria também eram titulares de empresas”, completou.

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Segundo o delegado da Polícia Federal Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira – chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da PF em São Paulo -, o Soma entrava em contato com as empresas de fachada para emitir notas fiscais simulando a venda de mercadorias (como detergentes e sacos de lixo) para o consórcio.

Após a emissão dos recibos, o Consórcio Soma transferia o dinheiro para as contas das empresas. “Na sequência, esse dinheiro era novamente transferido para outras empresas de fachada com vistas a simular a origem e o destino dos valores. Finalmente, os valores são transferidos para contas de pessoas ligadas ao esquema ou então remetido para o exterior”, afirmou.

“No curso das investigações, uma única remessa de valores para o exterior no valor de 850.000 reais. Esse dinheiro saiu do Brasil, passou por uma conta em Hong Kong e foi parar na Argentina, numa conta ligada ao diretor de Inteligência daquele país”, exemplificou o delegado.

“O Consórcio SOMA informa que cumpre todas as exigências legais e que está prestando todas as informações solicitadas pela Polícia Federal”, escreveu o grupo por meio da sua assessoria de imprensa.

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