O Senado enviará uma comissão de oito parlamentares para viajar a Angola com o intuito de discutir a crise interna que assola a Igreja Universal do Reino de Deus no país africano. Desde o fim de junho, parte dos templos da instituição foi tomada por um grupo de bispos, pastores e obreiros angolanos que não concordam com o comando do bispo Honorilton Gonçalves, braço direito do bispo Edir Macedo no continente africano.
Com acusações duras de ambos os lados – de ameaças, agressões à evasão de divisas e lavagem de dinheiro -, o impasse ainda está longe de ter um fim, conforme mostrado em reportagem de VEJA.
A ideia da viagem oficial partiu do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que assumiu a defesa dos pastores brasileiros alinhados a Macedo, que, segundo ele, estariam sofrendo “ameaças de morte” no país. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), anunciou que vai esperar o “momento adequado” para marcar a viagem, tendo em vista a pandemia do novo coronavírus. O requerimento aprovado diz que a missão deve acontecer num prazo de 30 dias. Provavelmente, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) será acionado para realizar o trajeto.
Além dos senadores, o presidente Jair Bolsonaro também entrou em campo para ajudar a Universal. Em 11 de julho, ele enviou uma carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, manifestando “preocupação” com os “recentes episódios” e pedindo uma proteção maior aos membros brasileiros da Igreja, “a fim de garantir sua integridade física material e a restituição de propriedades e moradias”.
Num primeiro momento, o governo angolano decidiu dar prosseguimento a investigações contra as lideranças brasileiras pelas suspeitas de imposição de vasectomia e evasão de divisas. Agora, com a pressão de Bolsonaro e do Parlamento brasileiro, as autoridades passaram a ser mais comedidas em suas ações – a começar pela cobertura na imprensa estatal. A ministra da Cultura, Adjany Costa, que também cuida da questão do registro de religiões no país, declarou que a crise da Universal não pode ser só analisada pela ótica religiosa, mas também pelas “consequências políticas e diplomáticas”.
O governo angolano vinha insistindo que o caso deveria ser tratado nos tribunais do país e não na arena política. Na última semana, após a carta de Bolsonaro, o chanceler de Angola, Téte António, recebeu o embaixador brasileiro para uma conversa, e, ao fim do encontro, ressaltou que a relação com o Brasil é “muito boa” e que é preciso “separar as coisas”. “Vamos deixar a justiça tratar desta questão”, frisou.