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“Se Bolsonaro ganhar, será uma catástrofe ambiental”

Aos 71 anos, o fotógrafo Araquém Alcântara viraliza nas redes sociais ao gravar depoimento emocionante em área queimada da Amazônia

Por Diego Alejandro
Atualizado em 30 set 2022, 18h08 - Publicado em 30 set 2022, 16h42

A arte é uma das formas mais eficazes de tornar compreensível para a população urbana a magnitude que a destruição da floresta Amazônica alcança – de acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas, 16% do bioma desapareceu sob o fogo das queimadas, em razão da extração ilegal de madeira e do garimpo. Na semana passada, um vídeo gravado por Araquém Alcântara, um dos mais renomados fotógrafos da atualidade, em uma área recém-queimada da Amazônia viralizou nas redes sociais pela contundência das imagens e o depoimento emocionado de Araquém, reconhecido pelo trabalho esplêndido no registro da natureza. “Dedico-me a mostrar não só a beleza, mas os horrores cometidos contra as matas”, desabafou. A VEJA, o fotógrafo de 71 anos conta como enxerga o futuro dos ecossistemas nacionais em tempos tão turbulentos.

O que mudou na política ambiental nos seus 52 anos de carreira?

Não vejo prosperidade. Entra governo e sai governo e a extração ilegal das riquezas da floresta permanece. O Estado foi inoperante e indiferente. Não é possível aceitar mais tanta destruição em nome da ganância e do lucro. Já era tempo de termos uma regularização fundiária e identificar os verdadeiros donos da terra. Quando voava de Rondônia a Mato Grosso, ainda via grandes áreas florestais. Hoje, parece que está tudo loteado.

O que pode ser feito?
Precisamos de uma grande ação envolvendo o Exército brasileiro nas fronteiras, a Polícia Federal aparelhada e as leis ambientais sendo aplicadas.

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Baseado em sua experiência, como enxerga o futuro do meio ambiente no país?
Como Carlos Nobre (cientista brasileiro, reconhecido principalmente na área dos estudos sobre o aquecimento global), vejo com otimismo o surgimento de uma visão não materialista nos jovens. É o que me dá força para continuar revelando esse cotidiano. Eles sabem que as mudanças climáticas podem roubar seu futuro.

Vê sinais de que as coisas podem melhorar?
Há toda uma evolução no campo da bioeconomia, uma área nova que defende o funcionamento de sistemas agroflorestais capazes de permitir o desenvolvimento da Amazônia sem precisar derrubar nada.

Preservar as florestas sem deixá-las intocadas?
As florestas jamais podem ficar intocadas. Temos o exemplo do projeto RECA, caracterizado por produção agroflorestal sustentável na Amazônia (trata-se de uma cooperativa que planta e comercializa frutos nativos). O geógrafo Aziz Ab’Saber (1924-2012), um dos pioneiros na defesa da economia sustentável na Amazônia, falou muito disso: aproveitar a sombra das bordas da floresta para plantar cupuaçu e outros frutos. Ou seja, mudar essa característica ultrapassada e devastadora de só explorar e derrubar a mata.

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O que esperar de uma eventual reeleição de Jair Bolsonaro (PL) ou do retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República na questão ambiental?
A continuidade do governo Bolsonaro me faz ver uma catástrofe ambiental nesse país. Ele não faz nada, e quando faz desmonta órgãos vitais para a conservação, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Meu voto é Lula porque tenho a certeza de que ele reverterá esse quadro de agora. Ele está cercado de pessoas que vão estar preocupadas com o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Mas, de acordo com o INPE, o desmatamento anual médio na Amazônia foi de 15,6 mil quilômetros quadrados nos três primeiros anos de governo de Lula, 4,2 mil quilômetros quadrados a mais do que o registrado no mesmo período da gestão Bolsonaro. O que faz o senhor acreditar nele?
Em seu governo, Lula criou várias unidades de conservação e havia uma efetiva fiscalização. Mesmo assim, via que era preciso muito mais, sabe? É preciso ter um ministério do meio ambiente forte. E isso o Lula vai fazer agora. Não somente porque ele quer, mas pelas pessoas que o cercam. Não tem como fugir.

Como o senhor afirma no vídeo, seu trabalho também denuncia os ataques à Amazônia. Tem medo de sofrer violência por parte daqueles que cometem atos ilegais na floresta?
Não. Meu trabalho não está ligado a ideologias ou partidos. Sou um cronista da beleza, mas também um cronista do extermínio. Mas acima de qualquer partidarismo. Não tentem me enquadrar em nada. Sou fotógrafo, não estou a serviço do homem, sabe? Estou a serviço da natureza. Não tenho medo de nada.

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