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Roy Andersson relata agruras da vida com humor, desdém e poesia

'Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência' trata de temas como mortalidade, solidão e dificuldades financeiras

Por Simone Costa
25 out 2014, 15h43
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  • O cineasta sueco Roy Andersson, 71 anos, não é dos mais prolíficos. Para completar sua trilogia “sobre ser um ser humano”, foram 14 anos. Em relação aos longas de ficção anteriores, o intervalo é de décadas. Mas é só começar a assistir Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência (En Duva Satt på en Gren Och Funderade på Tillvaron, Suécia, Alemanha, Noruega, França, 2014), vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza deste ano, para saber que se trata de um filme seu. Ele fecha um ciclo depois de Canções do Segundo Andar (2000) e Vocês, os Vivos (2007). Em uma hora e quarenta minutos, o longa faz desfilar diante do público uma vasta quantidade de personagens em quase quarenta esquetes. Cada uma delas dura poucos minutos, o suficiente para tocar em temas caros à existência humana, como a mortalidade, a solidão, o envelhecimento e até mesmo questões cotidianas, como dificuldades financeiras. Tudo isso, no entanto, tratado sob um tom de desdém diante do absurdo da vida.

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    Conectando tantas situações, dois homens surgem com frequência em cena. São eles Jonathan (Holger Andersson) e Sam (Nils Westblom), vendedores ambulantes que querem “ajudar as pessoas a se divertir”. Esse é o mantra repetido sempre que os dois abrem uma mala com itens inusitados, como dentes de vampiros com “presas extralongas”, um saco de risadas ou a máscara do “Tio Um-Dente”, diante de pessoas inexpressivas que apenas recusam. Os dois, quando não sozinhos nos minúsculos quartos que alugam num lugar que mais parece uma prisão, surgem quase sempre nos mesmos ambientes, como os demais personagens.

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    https://youtube.com/watch?v=MhpedyLXevo

    Sam e Jonathan querem fazer as pessoas felizes, só que eles mesmos esqueceram como sorrir. Pálidos, os dois mais parecem ter saído de algum filme de zumbi, o que os torna ao mesmo tempo cômicos e dignos de pena. Em suas vidas vazias, é como se não tivessem ferramentas suficientes para compreender o mundo que os cerca. Nesse sentido, Sam é mais prático. À noite, quer apenas dormir para acordar no outro dia pela manhã e sair na tentativa de vender alguma dentadura de vampiro. Jonanthan, não. Ele perde o sono, não consegue parar de ouvir a mesma música, e quando enfim dorme é atormentado por um sonho estranho: Num aparato gingante, que é uma espécie de instrumento musical, entram vários escravos africanos. Com todos dentro, os soldados do lado de fora colocam fogo no fundo do objeto, o que faz sair de lá um bonito som que ganha a admiração de um grupo de aristocratas parados ali perto.

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    Jonathan não entende o sonho. Ele é o personagem que contrapõe o riso incômodo provocado por algumas situações ao sentimento de impotência diante do quão dura a vida pode ser. “Há alguns assuntos com os quais lido todo o tempo. A vulnerabilidade do ser humano. A humilhação, seja quando as pessoas humilham o outro ou quando humilham a si mesmas. Também me interessam a perdição, a confusão e a fraquezas humanas”, disse Andernson numa entrevista ao The New York Times anos atrás.

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    Todo o passeio de Andersson é pela complexidade que da existência humana. Ela está expressa nas cenas absurdas da chegada do exército do rei Carlos XII da Suécia, saído do século XVIII para invadir o XXI, ou na frase repetida quase à exaustão por diferentes personagens: “Fico feliz em saber que você está bem”. Tudo isso é mostrado ao público em cenários despojados, com cores apagadas e uma câmera que não se move ao som de flamenco, valsas e a melodia do Hino de Batalha da República, composto durante a Guerra Civil Americana, no século XIX.

    O pombo? Bem, ele foi inspirado num quadro do pintor holandês Pieter Bruegel, do século XVI, que mostra um pássaro solitário sobrevoando uma vila coberta de neve e alguns caçadores à espreita. “O Pombo mostra o apocalipse iminente e oferece a possibilidade de acreditar em nossa capacidade de evitá-lo”, explicou Andersson em seu site. É a tranquilidade de cenas como uma mãe que brinca com seu bebê ou um casal de namorados à beira mar que dão a entender que a vida, apesar de tudo, tem seu lado bom.

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    Serviço:

    26/10 às 18h50 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 1

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