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Regime militar monitorou por anos relação de Lula com Daniel Ortega

Por vários anos, ditadura brasileira acompanhou a aproximação do petista com o autocrata nicaraguense que agora rompeu relações diplomáticas com o Brasil

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 ago 2024, 08h52
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  • O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, expulsou do país o embaixador brasileiro Breno e Souza da Costa, em razão de o governo Lula não ter enviado representantes às celebrações do aniversário da revolução sandinista. Em contrapartida, o Brasil decidiu expulsar a embaixadora da Nicarágua, Fulvia Patricia Castro Matu.

    A decisão da ditadura nicaraguense foi considerada pela diplomacia brasileira como um gesto grave, que, inclusive, pode colocar um ponto final na relação pessoal de mais de quatro décadas entre Lula e Ortega — proximidade, aliás, que era acompanhada de perto pelos serviços de inteligência da ditadura militar brasileira.

    Membro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) desde 1962, Ortega presidiu seu país entre 1979 e 1990 e voltou ao cargo em 2006, onde permanece até hoje, conduzindo um regime autoritário que prende opositores e viola os direitos humanos.

    Na época, o extinto Serviço Nacional de Informações produziu mais de 70 relatórios sobre as relações entre Daniel Ortega, Lula e o PT. Em junho de 1984, o SNI enviou dois pedidos à inteligência da Polícia Federal para levantar informações sobre uma viagem de Lula, então presidente do PT, à Nicarágua e a Cuba, com uma comitiva de petistas, entre eles o ex-ministro José Dirceu.

    A inteligência da PF produziu um relatório informando que Lula seria recebido por Daniel Ortega e visitaria uma área de confronto. Em Cuba, o futuro presidente seria recebido pelo então comandante Fidel Castro. “Segundo Lula, durante esta viagem deverá aprender novos métodos políticos para aplicá-los no Brasil, principalmente democracia e eleições livres e diretas como as praticadas na Nicarágua e Cuba”, diz o relatório da PF.

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    Após o regime militar, o SNI continuou monitorando as viagens de Lula para a Nicarágua. Em 1989, por exemplo, os agentes  produziram um relatório sobre a aproximação do PT com as esquerdas na América Latina, citando uma turnê de Lula por Havana, Manágua, Santiago e Buenos Aires. Estas viagens eram vistas como uma forma de o PT construir a futura candidatura de Lula à Presidência.

    Os serviços de inteligência do governo também monitoravam atores brasileiros que tinham ligações com a Nicarágua de Daniel Ortega. Em outros relatórios, discorreram sobre as relações de Ortega com países comunistas, como a extinta União Soviética e a Coreia do Norte.

    Em 1983, a Embaixada do Brasil em Washington (EUA) enviou documento ao SNI informando sobre um plano dos sandinistas, liderados por Ortega, de adquirir aviões de combate para lutar contra os inimigos na Nicarágua, o que representaria “uma escalada seriamente desestabilizadora na América Central e aumentaria a ameaça que a Nicarágua já representa para seus vizinhos”.

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