A história de Maíra, massoterapeuta morta no mesmo avião de Teori
Maira Panas não sabia que voava com um ministro do STF. Momentos antes de embarcar, ela enviou mensagem para amigas chamando-o de “senhor muito chique”
Quando embarcou no bimotor PR-SOM no aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, ao lado do patrão e da mãe ontem, Maíra Lidiane Panas Helatczuk, de 23 anos, não tinha a menor ideia de quem era o quarto passageiro da aeronave que seguia para Paraty. Apenas descreveu o ministro Teori Zavascki aos amigos como um “senhor muito chique”, por meio de um grupo de Whatsapp.
Às 12h46, quinze minutos antes da decolagem, Maíra também fez sua última postagem em redes sociais, contando que acabara de ser assaltada. Foi justamente esse relato que chamou a atenção dos conhecidos, que imediatamente entraram em contato para saber se estava tudo bem. Depois da publicação, os seguidores da jovem nunca mais tiveram resposta. “Nós estávamos com tudo pronto para viajar para a Riviera de São Lourenço [litoral de São Paulo] neste fim de semana, e ela cancelou na véspera dizendo que precisaria viajar a trabalho”, contou a VEJA Ieda Barreto, colega de faculdade da vítima.
Nascida em Juína, cidade do Mato Grosso que faz fronteira com Rondônia, Maíra se mudou para São Paulo há dois anos. Morava com o namorado na Vila Mariana e trabalhava como massoterapeuta no SPA do Hotel Emiliano, localizado na rua Oscar Freire, no bairro dos Jardins. Segundo conhecidos, o emprego no hotel de Carlos Alberto Filgueiras foi o primeiro que ela conseguiu na capital paulista.
“Ouvi que ele frequentemente viajava com funcionárias do SPA porque sentia dores nas costas, mas não sei dizer se foi a primeira vez que a levou. Sei que ela via o patrão como um pai, e sempre dizia que ele a ajudou muito quando ela chegou em São Paulo”, disse Ieda.
Desde agosto do ano passado, Maíra cursava fisioterapia na unidade Paraíso da Universidade Paulista (Unip). Para complementar a renda, fabricava e vendia sucos detox na faculdade, dava aulas de balé para crianças no bairro da Mooca e era parte do elenco de dançarinas do ventre da casa de chá egípcia Khan El Kalili, onde se apresentou pela última vez no domingo. Ela também era especialista em tango e dança zouk.
No primeiro dia de aula, Maíra emocionou os seus colegas de sala, ao contar que, há dois anos, havia ganhado uma bolsa de estudos para dançar balé na Suíça, mas, já no aeroporto, quando se dirigia à pista de embarque, passou mal e desmaiou. A queda rendeu uma lesão no pé, que lhe obrigou a permanecer no Brasil. Segundo o seu relato, foram as inúmeras sessões de fisioterapia que a permitiram voltar a dançar e, por isso, havia decidido fazer o curso.
“Todo mundo chorou quando ela contou essa história. Ela era uma pessoa que irradiava muita energia e alegria quando chegava. Era incapaz de ficar de mau humor”, disse Luciana Souza Cruz, colega de faculdade de Maíra. As duas haviam combinado de, depois da viagem, ir ao templo templo budista Zu Lai, em Cotia (SP).
Bastante apegada a questões de espiritualidade, Maíra mantinha um blog na internet onde se dizia apaixonada por livros e por guardar relíquias — em suas redes sociais, exibia uma coleção de vinis. Numa mensagem publicada em 30 de dezembro, ela assim se define: “Dentro sou areia e vento. Sou cigana de partida, nunca de chegada. (…) A vida é continuidade. Não tenho o direito de me apegar ou me despedir, porque também não sou mais do que mera alma seguindo para qualquer lugar no mundo”.
No último sábado, Maíra, Ieda, Luciana e outros amigos comemoraram em casa o aniversário de 53 anos de Maria Hilda – que viera do Mato Grosso especialmente para passar a data ao lado da filha. “Maíra nos disse que viajaria na quinta e voltaria na segunda, e estava muito feliz por poder levar a mãe. Ela vai fazer falta. Era uma pessoa honesta, que trabalhava muito”, disse Ieda. Os corpos de Maíra e Maria Hilda serão levados para Cuiabá, onde elas serão veladas pelos familiares.