Com o olho direito inchado e o sangue de um corte no supercílio escorrendo pelo rosto, a professora de português e literatura Marcia Friggi, de 51 anos, estremeceu na semana passada as redes sociais e, a partir delas, o país. Marcia, que dá aula para adolescentes e adultos em um supletivo em Indaial, no leste de Santa Catarina, levara um soco na cara de um aluno de 15 anos. Ela ia começar a falar de gramática e resolveu checar se alguém se distraía com o celular. Ele tinha um livro no colo. Ela, desconfiada, mandou que o pusesse sobre a carteira. Ele respondeu com um palavrão. Ela lhe ordenou que saísse da sala. Ele a atacou primeiro com o livro, depois com os punhos, na sala da direção. “O último soco me jogou na parede”, postou a professora junto com a foto. Era o primeiro dia de aula e o primeiro dia do aluno naquela escola, onde Marcia leciona há quatro anos — um dos dois empregos nos quais a mestra pós-graduada ganha 4.100 reais por mês.
Para professores da rede pública, que acomoda 90% dos estudantes, a barbárie do ato está longe de ser um caso isolado. O Brasil, colecionador de estatísticas vergonhosas na educação, aparece no topo do ranking mundial como um dos países campeões em agressão a professores. A constatação vem de estudo da OCDE, a organização das economias desenvolvidas, que aferiu o problema em 34 nações. A pergunta era: “Quem sofre ameaça verbal ou intimidação pelo menos uma vez por semana?”. No Brasil, 12,5% — quatro vezes a média verificada nos outros países pesquisados. Um segundo levantamento, este da QEdu, uma das principais plataformas de dados educacionais do país, mostra que dois terços dos professores da rede pública já viram aluno agredir aluno, e metade já viu aluno voltar-se contra professor.
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