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Quadrilha chefiada por Crivella brigou por divisão de propina, diz MP

Segundo os promotores, reunião ocorreu em março de 2018, no condomínio Península, o mesmo do prefeito do Rio de Janeiro

Por Cássio Bruno, Marina Lang Atualizado em 14 set 2020, 15h25 - Publicado em 14 set 2020, 15h04

Integrantes da organização criminosa chefiada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, candidato à reeleição pelo Republicanos, brigaram durante a divisão da propina em pelo menos um dos contratos fraudados pelo município. É o que revelam as investigações da segunda fase da Operação Hades, do Ministério Público estadual, a qual VEJA teve acesso. Em reunião realizada em março de 2018, no condomínio Península, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital, o grupo discutiu os valores que cada um receberia a partir de um convênio entre a prefeitura e o Grupo Assim Saúde de 210 milhões de reais. O encontro foi descoberto graças às mensagens interceptadas no celular do ex-senador Eduardo Lopes, apontado como articulador político da Igreja Universal do Reino de Deus e com papel de destaque dentro da quadrilha.

Um dos mais irritados com a partilha do dinheiro sujo foi Eduardo Lopes, segundo os promotores. O ex-senador é bem próximo a Marcelo Crivella. Os dois são bispos licenciados da Universal. Nas eleições de 2010, Lopes foi eleito primeiro suplente na chapa do então senador Crivella. Por isso, por duas vezes, assumiu o cargo no Congresso após Crivella ser nomeado ministro da Pesca e Agricultura no governo Dilma Rousseff e, em seguida, ser eleito prefeito, em 2016. Dois anos mais tarde, Eduardo Lopes disputou as eleições para o Senado, mas, desta vez, perdeu. Ele também comandou a Secretaria estadual de Agricultura da gestão Wilson Witzel (PSC).

Na reunião realizada em 11 de março de 2018, compareceram, além de Eduardo Lopes, mais sete pessoas. São elas: o empresário Rafael Alves, apontado pela investigação como operador do esquema criminoso dentro da prefeitura e com forte influência sobre Marcelo Crivella; Licínio Soares Bastos, contraventor condenado na Operação Furacão, desencadeada pela Polícia Federal em 2007, e que também está entre os investigados; Mauro Macedo, primo do bispo Edir Macedo (dono da Igreja Universal) e tesoureiro das campanhas de Crivella; o empresário Christiano Borges Stockler Campos; e outras três não identificadas.

O MP não aponta, no entanto, em qual apartamento ou área do condomínio Península teria ocorrido o encontro. Além de Crivella, Eduardo Lopes, Rafael Alves e o seu irmão Marcelo Alves, ex-presidente da RioTur, moram no condomínio Península. Todos eles foram denunciados na Operação Hades por participarem de um intrincado esquema de corrupção que, supostamente, envolveu contratos firmados por empresas com secretarias municipais.

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Mensagens interceptadas pelo Ministério Público no celular do ex-senador Eduardo Lopes (Reprodução/VEJA.com)

“A mensagem em tela tem início com a seguinte e sintomática frase: ‘DEPOIS VAMOS APAGAR’. Percebe-se, portanto, que o assunto tratado em seguida deveria ser mantido na clandestinidade, não deixando qualquer tipo de rastro. E a razão para tal postura é bastante simples, pois, de fato, o remetente da mensagem – EDUARDO LOPES – despe-se de qualquer freio inibitório e fala abertamente sobre a forma de divisão da propina que seria paga pelo Grupo Assim Saúde”, escreveram os promotores do caso.

Em outro trecho da denúncia, o MP fala sobre o empresário Aziz Chidid Neto: “Importante esclarecer que não há dúvida que o teor da mensagem diz respeito ao pagamento de propina pelo GRUPO ASSIM SAÚDE, pois EDUARDO LOPES faz referência expressa a uma ‘primeira reunião com o AZIZ’, sendo certo que se trata de AZIZ CHIDID NETO, atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Assim Saúde e que havia sido recém contratado pela PREVI-RIO, para prestação de serviços na ordem de R$ 210.000.000,00 (duzentos e dez milhões de reais). Por óbvio que a referência a um nome tão incomum não é mera coincidência”.

No documento, os promotores afirmam ainda que Eduardo Lopes sugere que Rafael Alves “compense” um eventual prejuízo na propina paga pelo Grupo Assim Saúde, por meio de mais um esquema de corrupção a ser desenvolvido em outro órgão da prefeitura, a Rioluz, a Companhia municipal de Energia e Luz. “Por fim, após EDUARDO LOPES, insatisfeito com o quinhão que lhe caberia, propõe uma forma mais ‘equânime’ de rateio do produto do crime, ainda exorta RAFAEL ALVES a concordar com a redução de seu percentual de propina, já que: ‘ABRINDO A RIOLUZ VOCÊ TIRA A DIFERENÇA, lá você estaria só com o LICÍNIO, eu só pediria ajuda para a minha campanha […]’.

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Outro lado

Desde o início da Operação Hades, o prefeito Marcelo Crivella sempre negou qualquer participação em casos de corrupção durante a sua gestão. Eduardo Lopes, por sua vez, não retornou os contatos até o momento.

Procurada por VEJA, a defesa de Rafael Alves também não retornou as ligações. A reportagem ainda tenta localizar Marcelo Alves, Licínio Soares Bastos, Mauro Macedo e Christiano Borges Stockler Campos. VEJA entrou em contato com o grupo Assim Saúde, mas nenhum representante respondeu para comentar a referência à empresa na denúncia do MP.

 

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