Foram 168 dias de portas fechadas até o primeiro voo aterrissar no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, desde as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul, em maio deste ano. Com 75% de suas pistas submersas, o principal centro de tráfego aéreo da Região Sul esteve entre os alvos de um colapso climático e estrutural com prejuízos na casa dos 87 bilhões de reais, sem falar nas perdas inestimáveis — 183 mortos, mais de 11 000 feridos e doentes, quase 100 000 desabrigados. A história, dramática, casamento de eventos inesperados e descaso, teve um bem-vindo novo capítulo com a reabertura oficial do aeroporto na sexta-feira 18, com direito a toda a pompa e circunstância que as autoridades não tiveram ao longo dos anos com trabalhos de prevenção. Na segunda-feira 21, a inauguração foi concretizada oficialmente com a aterrissagem de um voo oriundo de Campinas, um dos setenta previstos para o dia, movimentando ao redor de 9 000 passageiros. “Estamos reabrindo esse aeroporto muito antes do que as pessoas imaginavam”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, que chefiou a pasta extraordinária para a reparação gaúcha. É um alívio, sem dúvida, e alavanca para que a economia volte a andar, mas nem tudo está resolvido. As obras continuam: o espaço retornou à operação com 80% da capacidade. Ao menos, bons ventos começam a soprar no estado assolado pelas chuvas e mobilizado em uma demorada reconstrução. Ter aviões no ar não é garantia de céu de brigadeiro numa terra ainda ferida.
Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916