A adesão dos professores da rede particular à greve geral contra as reformas da Previdência e trabalhista causou divergências nas escolas de São Paulo entre pais, direção e funcionários. Em alguns colégios foi aprovada a paralisação na sexta-feira, e, em outros, um dia de debates sobre o assunto com os alunos. Segundo o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), cerca de 100 colégios da capital – de 4,5 mil unidades – confirmaram a greve.
No colégio São Luiz, na região central da capital, um comunicado que informava aos pais a decisão da escola de acolher a decisão dos professores de aderir à paralisação gerou insatisfação. A psicanalista Helena Zimerman, de 50 anos, que tem dois filhos na unidade – no 1.º e 3.º anos do ensino médio -, criticou a postura da escola que, segundo ela, “tem cunho escancaradamente político”. “Estão impondo um posicionamento ideológico e arrastando todo o corpo discente junto. Jovens que estão em formação não deveriam estar sujeitos a esse tipo de situação”, disse.
Ela contou ter feito reclamação na ouvidoria do colégio e disse que está, com outros pais, organizando um abaixo-assinado em repúdio ao comunicado. Na carta, o colégio afirma que é isento de alinhamento partidário e que “são inúmeras” as razões apresentadas para a manifestação. “Cremos que todos desejaríamos que reformas estruturais como as que estão sendo propostas não fossem realizadas a toque de caixa, sem o debate qualificado e o envolvimento dos diferentes grupos de interesse”, diz o texto. “Certamente há famílias insatisfeitas, mas esta é a posição não apenas do colégio, mas de toda a Rede Jesuíta de Educação no Brasil.”
Divergências como essa também aconteceram em outros colégios da capital, como Santa Cruz, Escola Viva e Stance Dual, e levaram pais a escrever cartas e se mobilizar nas redes sociais contra a paralisação.
Há escolas também onde haverá aula e discussões sobre a reforma trabalhista. O colégio Santa Maria, na zona sul da capital, encaminhou na segunda-feira um comunicado aos pais para informar que o horário de aulas será mantido, mas os professores irão debater com todos os alunos para a “compreensão da ideia dos processos de reforma e mudanças de lei”.
O veterinário Eduardo Henriques, pai de três meninos que estudam na escola, disse não ter gostado da postura adotada. “Não é um debate que cabe dentro de sala de aula, porque deixa claro o posicionamento político da direção. Para mim, era melhor que eles tivessem aderido à paralisação ou que dessem aulas normalmente. São os pais que devem falar sobre isso com os filhos.”
Segundo Henriques, a decisão da escola gerou conflitos entre os pais em grupos de WhatsApp. “Alguns pais, assim como eu, acham que a escola está defendendo uma ideologia, uma linha de pensamento político. Outros acham que não há nenhum problema.”
O colégio disse entender que é seu papel social desenvolver a consciência crítica dos alunos para ajudá-los a entender a atual e futura situação do País. “Eles têm direito a entender as diversas perspectivas, as consequências e implicações previstas por muitas das propostas”, diz o comunicado.
No colégio Equipe, na região central, haverá discussões na quinta-feira, à noite sobre a reforma. Paula Calabró, mãe de uma aluna de 12 anos do 7.º ano, disse que acha justa a paralisação e concorda com a forma como o colégio optou por tratar a questão. Na sexta, dia da greve, haverá aulas públicas sobre as mudanças na legislação.
É a segunda vez que a escola se manifesta em relação às reformas. No dia 31 de março, professores e funcionários forem trabalhar vestidos de preto, assinalando a idade em que se aposentarão caso passe a reforma da previdência.
Adesão
Silvia Bárbara, diretora do Sinpro-SP, disse que é a primeira vez, desde 2003, que os professores da rede particular aderem a uma greve – na ocasião eles reivindicavam reajuste para a categoria. “A polarização que a sociedade vive também existe nas escolas, com professores de esquerda e de direita. O que a categoria percebeu é que essa situação transcende a toda essa divergência porque afeta duramente a todos.”
A Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), que reúne colégios tradicionais de São Paulo – como Bandeirantes, Escola da Vila e Santa Cruz – se manifestou contrária à paralisação, apesar de afirmar reconhecer como “legais e aceitáveis” as manifestações. “Na atividade docente, o aluno deve estar sempre em primeiro lugar. A hipótese de interrupção das aulas não é aceitável. Trata-se de gesto que, se efetivado, representaria quebra nas relações contratuais dos professores com as escolas e destas com a comunidade de pais e alunos.”
(com Estadão Conteúdo)