Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Moro é o alvo da investida contra a Lava-Jato, dizem procuradores

Numa batalha política, procuradores de Curitiba alegam que ações têm como objetivo minar a candidatura do ex-ministro à Presidência em 2022

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h53 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Não são apenas as informações sigilosas, a lista de investigados e a legalidade de certos procedimentos que explicam a queda de braço entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. O pano de fundo desse embate é a especulada candidatura presidencial do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que desponta hoje como o principal adversário de Jair Bolsonaro em 2022. Sob a condição de não terem seus nomes revelados, integrantes da força-tarefa dizem que a PGR trabalha para manchar a imagem da operação e de seu símbolo maior, com o objetivo de facilitar a reeleição do presidente. O órgão — comandado por Augusto Aras, indicado ao cargo por Bolsonaro — estaria planejando até mesmo uma busca e apreensão no escritório da advogada Rosangela Moro, esposa do ex-­ministro, a fim de desgastar o casal diante da opinião pública. Foi por isso, acrescentam os procuradores de Curitiba, que a PGR teria retomado as negociações para um acordo de delação premiada com o operador financeiro Rodrigo Tacla Duran.

Atualmente morando na Espanha, Tacla Duran, que operou quase 2 bilhões de reais de investigados no petrolão, já teve uma proposta de colaboração rejeitada pela equipe coordenada pelo procurador Deltan Dalla­gnol, sob a alegação de que burlou provas e fraudou e-mails com autoridades para tentar o desbloqueio de seus bens. Há tempos o caso parecia encerrado, mas a PGR reabriu a conversa com o operador financeiro, recorrendo a uma estratégia antes condenada pelo próprio Aras: a de ofertar ao candidato a delator que entregue uma autoridade. Qual autoridade? O nome não está posto oficialmente, mas nos bastidores todos sabem que se trata de Moro. A esperança de enredar o ex-ministro decorre do fato de Tacla Duran já ter dito que pagou ao advogado Carlos Zucolotto, amigo do ex-juiz, para obter vantagens em seu acordo com a Lava-Jato, rejeitado em Curitiba. Zucolotto foi sócio de Rosangela Moro. Essa sociedade entre os dois seria usada pela PGR para pedir à Justiça o tal mandado de busca e apreensão no escritório de Rosangela.

Numa tentativa de dar veracidade à motivação política da PGR, integrantes da força-tarefa dizem que a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, braço direito de Aras, fez a seguinte pergunta ao visitar a equipe de Dallagnol em Curitiba: “Você acha que o Moro é viável em 2022?”. Naquele dia, Lindôra pediu acesso às informações, inclusive sigilosas, mantidas pelo grupo, que se recusou a atendê-la. Uma liminar do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou recentemente o compartilhamento dos dados. Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça acusando Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal. No mesmo dia, a PGR solicitou a abertura de inquérito para apurar a veracidade da acusação, mas também para analisar uma suposta denunciação caluniosa por parte do ex-ministro. A apuração está em curso. Até agora, Moro não admite publicamente o desejo de disputar a Presidência. Mesmo assim, é cortejado por diferentes partidos.

Augusto Aras
VINGADOR - Aras: investigações para mostrar erros e abusos da Lava-Jato. (Geraldo Magela/Ag. Senado)

Segundo levantamento realizado pela Quaest Consultoria em junho, o ex-juiz está em segundo lugar na corrida presidencial, com 19%, bem próximo do líder, Bolsonaro, que marcou 22%. Na terceira e quarta colocações aparecem Fernando Haddad (PT), com 13%, e Ciro Gomes (PDT), com 12%. A competitividade de Moro convenceu auxiliares do presidente a tentar neutralizá-lo desde já. A PGR, de acordo com o relato de integrantes da força-­tarefa em Curitiba, estaria na linha de frente dessa cruzada. Aras nega que a Procuradoria aja por motivação política. Ele, isso é fato, sempre teve ressalvas à atuação dos procuradores na operação. “O que aconteceu com a República de Curitiba foi que os homens acharam que podiam superar as leis e as regras do jogo”, disse durante a sua bem-sucedida campanha para o cargo de procurador-geral. As queixas contra Moro não eram muito diferentes. Aras acreditava que o então ministro trabalhava contra sua indicação e, por isso, recusou-se a recebê-­lo para uma reunião, mesmo quando a sua escolha para a chefia da PGR já estava consolidada.

Continua após a publicidade

ASSINE VEJA

Crise da desigualdade social: a busca pelo equilíbrio
Crise da desigualdade social: a busca pelo equilíbrio Leia nesta edição: Como a pandemia ampliou o abismo entre ricos e pobres no Brasil. E mais: entrevista exclusiva com Pazuello, ministro interino da Saúde ()
Clique e Assine

Um processo sigiloso apresentado ao STF para apurar a possibilidade de a força-tarefa em Curitiba ter investigado ilegalmente autoridades com prerrogativa de foro deu a motivação jurídica que faltava para revisitar o trabalho da Lava-Jato. Recentemente, ela foi acusada de conduzir (sem autorização) investigações sobre os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, omitindo os sobrenomes pelos quais são mais conhecidos. “Quando esse processo chegou ao STF, colocou o problema na rua e todos em Curitiba ficaram sob suspeita”, relatou a VEJA um integrante da equipe do PGR. Uma das forças mais potentes da República, o Ministério Público nunca esteve tão dividido. Trata-se de uma guerra aberta, com um olho nos poderes de hoje (informações, privilégios e cargos) e o outro em 2022.

Publicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.