Por que as operações policiais aumentam em período eleitoral
Um novo levantamento mostra um avanço consistente desta prática
A cada período eleitoral, a segurança pública registra em todo o país uma subida no número de operações policiais. Mas, este ano, o dado chamou atenção na comparação com os do último pleito, em 2020: o avanço das ações da polícia foi de 18%, segundo revelado no boletim “Raio-X das ações de policiamento”. O estudo extraiu informações de 16 observatórios de segurança nos estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Ceará e Rio de Janeiro.
Uma das conhecidas razões para a escalada das operações em janelas eleitorais diz respeito à própria política. Elas são, afinal, uma resposta visível ao sentimento de insegurança da população. “Não há dúvidas de que essa linha de ação aparece mais intensamente em contextos como o que estamos vivendo agora, já que as autoridades dos estados, em busca de reeleição, estão em pleno momento de angariar votos”, avalia o especialista Paulo Nunes, coordenador do Centro de Estudos de Sociedade e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes.
Como mostra a experiência, operações policiais, embora necessárias no combate ao crime, nem sempre alcançam o objetivo porque se convertem em confrontos bélicos com a bandidagem, sem resultado prático. No Rio, onde a questão da segurança reúne características bastante peculiares, com vastas áreas do território dominadas por tráfico e milícias, a situação não se alterou muito nas últimas três décadas.
A Polícia Militar no Rio de Janeiro, por meio de seu porta-voz, rebate as conclusões da pesquisa, ao afirmar que a análise numérica das ações policiais não leva em consideração a alta da demanda e a movimentação dos criminosos, o que justificaria o aumento delas. “Os marginais veem em eleições uma brecha de oportunidade para agir, sob a crença de que a polícia irá frear as ações de repressão ao crime, daí a necessidade das operações”, diz o tenente-coronel Ivan Braz.
Para tirar o crime de cena, algo urgente dado que ele se alastra, o caminho passa por uma cirurgia muito mais profunda, que passa por uma tropa bem treinada e comprometida e uma remodelação das políticas públicas, segundo reforçam os especialistas. Embora visíveis, certamente que as operações são apenas um aceno pontual – e muitas vezes mal sucedido.