A Polícia de São Paulo prendeu neste domingo, 25, um dos suspeitos de atear fogo na estátua do bandeirante Borba Gato, em Santo Amaro, bairro da zona sul da capital paulista. Outros suspeitos de envolvimento na ação ainda estão sendo procurados.
Neste sábado, ativistas do grupo chamado Revolução Periférica utilizaram pneus para incendiar a estátua de 13 metros de altura, contando o pedestal. O fogo foi controlado, mas as imagens do monumento em chamas causaram alvoroço nas redes.
Segundo nota da secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a polícia identificou o motorista do caminhão que conduziu o grupo até o local e transportou os pneus usados no incêndio. Ele dirigia, ainda de acordo com a nota, um veículo com placa adulterada.
Há alguns anos que movimentos em defesa dos direitos dos indígenas e dos negros denunciam a presença, no país, de homenagens a algozes históricos desses povos. Esse debate não ocorre só no Brasil, mas em países como Estados Unidos e Reino Unido, onde, por exemplo, estátuas de figuras escravocratas foram derrubadas na esteira das discussões sobre racismo despertadas pelo assassinato de George Floyd por um policial americano branco, em maio do ano passado.
Quando ele foi morto e estátuas ao redor do mundo começaram a ser tombadas à força por ativistas, as atenções no Brasil se voltaram para o monumento de Borba Gato, bandeirante genro de Fernão Dias e que depois virou juiz em Sabará, Minas Gerais. Guardas Civis de São Paulo chegaram a ter que vigiar o monumento 24 horas por dia.
Em 2016, a escultura já havia sido alvo de manifestantes que fizeram um ataque coordenado com tintas também no Monumento aos Bandeirantes, no Parque do Ibirapuera. Os bandeirantes eram grupos de homens no Brasil dos séculos 17 e 18 conhecidos por desbravarem as terras no interior do país.
A história costuma enaltecer a coragem e o pioneirismo desses desbravadores, mas com frequência omite que essas viagens deixavam um rastro de assassinatos de indígenas e escravização de negros africanos. Os bandeirantes muitas vezes atuavam como mercenários de grandes fazendeiros para capturar escravizados fugidos, destruir quilombos e roubar terras e expulsar indígenas de determinados territórios.
Zumbi dos Palmares, o maior símbolo da resistência ao sistema escravista no Brasil, foi morto pelas mãos de bandeirantes que promoveram um cerco ao Quilombo dos Palmares, em Pernambuco. É por esse histórico que movimentos em defesa dos direitos dos povos negros pedem a revisão de homenagens a personagens que são sinônimo de sofrimento para seus antepassados.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, lamentou o ato de vandalismo com a estátua. Naquele mesmo sábado na capital paulista, após manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro, alguns manifestantes entraram em conflito com a polícia, que devolveu com bombas de efeito moral e balas de borracha.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), justificou a ação da PM e criticou atos de vandalismo de parte dos manifestantes. “Condeno o vandalismo nas manifestações de hoje. Quem age como vândalo é tão autoritário e violento como aquele que é alvo do protesto”, disse Doria.