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Polícia prende suspeito de participação na chacina em Fortaleza

Familiares dos 14 mortos e 18 feridos estão 'aterrorizados'. Polícia investiga se maior chacina já registrada no Ceará foi causada por facções criminosas

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 27 jan 2018, 23h02 - Publicado em 27 jan 2018, 22h16
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  • Uma pessoa foi presa suspeita de participação na chacina que matou 14 pessoas e deixou outras 18 feridas, numa festa de forró, ocorrida durante a madrugada deste sábado na periferia de Fortaleza. A polícia investiga se a chacina, a maior já registrada no Estado, foi motivada por um conflito entre facções criminosas rivais.

    De acordo com nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará um fuzil foi apreendido com o suspeito, cujo nome não foi divulgado. “Mais detalhes serão repassados em momento oportuno para não comprometer o trabalho policial”, diz a nota da secretaria.

    O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), classificou o fato de “selvagem e inaceitável”. Por meio de seu perfil oficial nas redes sociais, ele disse ter determinado “rigor absoluto” nas investigações e “busca incessante” dos criminosos, para que todos os envolvidos sejam identificados e presos o mais rápido possível.

    “Não aceitaremos de forma alguma que esse tipo de barbárie fique impune. Confio na nossa polícia e tenho absoluta convicção de que uma resposta será dada muito em breve”, escreveu o governador. Das 14 vítimas fatais, segundo informou a SSPDS, oito eram mulheres e seis homens. Sete foram identificadas.

    Equipes da delegacia de homicídios estão em diligências. Composições dos batalhões de policiamento de rondas e ações intensivas e ostensivas, de Polícia de Choque e da Força Tática deflagraram operações, que integram os trabalhos policiais na região onde ocorreu a matança.

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    Conforme apurações, o fato ocorreu e uma casa de eventos, conhecida como “Forró do Gago”, na Rua Madre Tereza de Calcutá, no bairro Cajazeiras.

    Familiares ‘aterrorizados’

    Familiares dos 14 mortos e 18 feridos na chacina que aconteceu no bairro de Cajazeiras, em Fortaleza (CE), estão assustados e com medo de conceder entrevista à imprensa. Os únicos que falaram com os parentes das vítimas até agora foram os defensores públicos Gina Moura e Emerson Castelo Branco e os policiais civis, que colheram depoimentos sobre o caso.

    Segundo Gina Moura, “todos estão aterrorizados”. “Não querem falar muito. Fomos conversar com eles para dar assistência jurídica e proteção, que é o papel do Núcleo de Assistência aos presos provisórios e às vítimas de violência que instalamos na Defensoria Pública há seis meses”, afirma.

    Emerson Castelo Branco, que esteve no Instituto José Frota (IJF) Centro, maior hospital de emergência de Fortaleza, afirmou ao Estado, que todos os parentes das vítimas “estão no campo da vulnerabilidade”. “Estamos conversando com eles para enfrentar este problema de frente e garantir a proteção do Estado para que não venham a se tornar novas vítimas fatais”, diz.

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    De acordo com a promotora, que esteve no IJF e na Perícia Forense, onde os familiares foram reconhecer os corpos dos 14 mortos, o estado deles é de “susto”. “Fomos para dar assistência global, numa articulação para que eles não sejam as próximas vítimas”.

    Festa no bairro Cajazeiras, na periferia de Fortaleza (CE), termina com 14 pessoas mortas - 27/01/2018
    Entrada doForro do Gago, palco da chacina em Fortaleza (CE) (TV Globo/Reprodução)

    Dez feridos recebem alta

    Das 18 pessoas feridas, dez receberam alta após atendimento de primeiros socorros. Sete continuam internadas no IJF Centro e uma na unidade do IJF em Messejana. O homem de 23 anos, que está internado em Messejana, é o mais grave. Ele corre risco de morrer.

    Das sete pessoas no IJF Centro, nenhuma está em estado grave. São quatro mulheres, dois homens e uma criança de 12 anos. O menino, que foi um dos primeiros a ser atingidos na chacina, teve o pai morto na ocasião. A criança levou um tiro de raspão na coxa direita. Ele deve receber alta neste domingo.

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    Precisaram fazer cirurgias para extração de balas as quatro mulheres, sendo duas de 16, uma de 17 e outra de 19 anos. Os dois homens internados têm 16 e 24 anos. O mais velho passou por cirurgia, já o de 16 anos está na emergência para exames.

    ‘Evento isolado’

    Em coletiva de imprensa, o secretário de Segurança, André Costa, negou que o estado tenha perdido o controle da segurança pública para as facções criminosas. E afirmou que a chacina foi um “evento isolado”. “Não há perda de controle”, declarou, acrescentando que “é uma situação criminosa, que foi organizada, que foi planejada e que veio a ser executada”. Costa comparou a situação com ataques em boates e shows em outros países, como nos Estados Unidos. Para ele, “não há motivo para pânico, para temor”.

    Apesar da declaração do secretário, a chacina em Cajazeiras é a terceira registrada em Fortaleza em menos de um ano. Em junho de 2017, seis pessoas foram mortas no bairro Porto das Dunas, também em uma festa. Em novembro, outra chacina vitimou quatro adolescentes detidos, que foram retirados por criminosos do Centro Educativo Mártir Francisca.

    Violência

    A chacina reitera o cenário de violência que marca o Ceará. O Atlas da Violência 2017, estudo realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no estado do Ceará cresceu 47% entre 2010 e 2015, ano em que foram contabilizados 4.163 homicídios.

    Professor da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, Luiz Fábio Paiva afirma que parte desse número está ligada às facções criminosas. A hegemonia do crime no estado, segundo o pesquisador, tem sido disputada por dois grupos: uma aliança formada pelo Comando Vermelho e pela Família do Norte e, de outro, um grupo local conhecido como Guardiões do Estado, que receberia o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para ele, o poder público é “completamente ineficaz no enfrentamento dessa situação”.

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