Polícia indicia Dr. Jairinho e amante por tortura de outro menino no Rio
Caso foi revelado por VEJA em abril após a morte de Henry Borel; mãe da outra criança se relacionava com o vereador até este ano
A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) da Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu, nesta terça-feira (1º), o inquérito que apurava agressões do vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, de 43 anos, contra outro garoto, filho de sua amante, a assistente social Débora Mello Saraiva, de 34 anos. O parlamentar responderá por tortura majorada contra a criança. A mãe do menino, por sua vez, vai responder por omissão e tortura imprópria, cuja pena é mais branda. Ambos foram indiciados pelo crime de falsidade ideológica – porque mentiram no atendimento hospitalar em 2015, na tentativa de ocultar as agressões sofridas pelo menor de idade, à época com três anos. O caso foi revelado por VEJA em 2 de abril, após o assassinato de Henry Borel, de 4 anos, na madrugada de 8 de março, dentro do apartamento em que morava com Jairinho e com a mãe, Monique Medeiros, de 33 anos, em condomínio de luxo na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio) – os dois estão presos e são réus por homicídio triplamente qualificado e tortura do garotinho.
Além destes crimes, a DCAV também indiciou o vereador por tortura, no mês passado, contra outra menina há oito anos – o caso também detalhado por VEJA no começo de abril. A denúncia já foi aceita pela Justiça. Segundo o delegado Adriano França, titular da unidade, a polícia não descarta outras agressões de Jairinho contra mais crianças. No caso do filho de Débora, tanto ele quanto sua irmã, também menor de idade, foram submetidos a depoimentos especiais feitos por policiais especializados em interrogatórios infantis. Os dois ativaram memórias guardadas e o menino reviveu episódios em que foi espancado pelo parlamentar: tortura mediante sufocamento com saco na cabeça, pisões no abdômen e uma grave fratura de fêmur. Neste episódio, de acordo com as investigações, “a criança com medo vomitou no carro na tentativa de fugir de seu algoz, descendo de um veículo tipo SUV acabando por sofrer a lesão grave, ficando imobilizado com gesso por cerca de dois meses”.
À época, a criança foi levada ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. A polícia conseguiu obter a documentação do atendimento, no qual há relatos de uma psicóloga narrando que a criança “interagia bem, mas chorava um pouco e dizia que queria ir para casa e que não queria entrar no carro em que se acidentou”.
“Há relatos no atendimento médico no mesmo dia e no mesmo hospital de que o paciente apresentava dois hematomas na bochecha, sendo uma do lado direito e outro do lado esquerdo, bem como assaduras nos glúteos, comprovando não só a fratura, mas também outras agressões naquele dia em que a criança foi vítima” de agressões, segundo a Dcav. Ao hospital, Jairinho e Débora alegaram que os machucados teriam sido consequência de um “acidente automobilístico”. Para a polícia, eles “fizeram inserir informação falsa em documento público”. Devido a isso, o casal vai responder por falsidade ideológica.
Ainda de acordo com os investigadores, os relatos no hospital ocorreram na presença da mãe da vítima. “Mesmo sendo que mesmo sabedora dos fatos ocorridos, ainda assim, [Débora] conviveu em imóvel no bairro de Jacarepaguá pertencente ao seu amante (local onde ocorreram posteriormente outras agressões contra seu filho) e não comunicou os fatos às autoridades, bem como também não o fez a equipe de profissionais de saúde que atendeu a criança, fato este tratado pelo ECA como infração administrativa [omissão]”, diz a polícia.
O relatório final do inquérito aponta que Débora declarou à polícia que Jairinho não fazia muita questão da presença da irmã mais velha do garotinho agredido, “demonstrando sempre um interesse especial em se aproximar da criança menor; que Jairinho sempre insistia com a declarante para que fossem buscar o garoto; que desde o início do relacionamento Jairinho pedia à declarante para sair sozinho com o menino pequeno”.
Para a polícia, isso evidenciou que a mãe dele, “sabendo de fato anterior ocorrido em seu próprio imóvel, ainda assim, permitiu que Dr. Jairinho saísse sozinho com seu filho de apenas 3 anos de idade, vindo este a sofrer posteriormente novo episódio de intensa dor e sofrimento por pessoa que deveria protegê-lo, pois mesmo que mantivesse um relacionamento extraconjugal, Dr. Jairinho fazia efetivamente o papel de padrasto daquela criança, não ficando comprovado, nem mesmo, em tese, quaisquer agressões em relação à irmã do menino”.
Débora seguiu mantendo relacionamento amoroso com Jairinho até o parlamentar ser preso no dia 8 de abril, acusado pelo assassinato e tortura de Henry. É para ela que o vereador manda uma mensagem na madrugada em que a criança foi morta, à 1h47 daquela noite. Tanto o filho torturado por Jairinho quanto sua irmã confirmaram, em depoimentos, que Jairinho o pisoteou e colocou um saco plástico na cabeça do menino – episódio narrado pela mãe no mês passado à polícia.
Em 2015, o menino e a irmã, também menor de idade, acordaram para beber água. O vereador estava acordado e Débora estava dormindo. Jarinho mandou a menina, que é mais velha que o irmão, pegar água e ir deitar, pois ele cuidaria do garoto – à época com 3 anos incompletos. A mulher contou que o filho lhe disse que Dr. Jarinho “colocou um papel e um pano na boca dele, e disse que ele não poderia engolir”. O parlamentar, então, teria deitado a criança pequena no sofá da sala, ficado em pé no sofá e apoiado todo o peso do corpo dele com os pés acima do menino. O garotinho teria relatado ainda que conseguira se desvencilhar, chamara pela mãe e que ela não conseguia acordar. Dr. Jairinho conseguiu alcançá-lo, levou a criança “até o estacionamento, para dentro do carro”, e que o vereador teria colocado um saco plástico na cabeça do menino. Em seguida, ficou dando voltas com o veículo.
Aos policiais, a mulher afirmou que suspeita ter sido dopada naquela noite em que a criança foi torturada – isto porque sua filha e sua mãe viram um copo de bebidas com um pó branco em seu interior. Sobre o episódio em que a criança ficou com o rosto e olhos roxos, a avó materna da criança informou à polícia que ele havia “caído de uma rede” em uma casa de veraneio em Angra dos Reis, e que foi conduzido ao atendimento médico por Dr. Jairinho e Débora.