Com nomeação de Rolando, PF e Abin deverão trabalhar mais integradas
Jair Bolsonaro quer ter acesso a informações produzidas pelo serviço de inteligência da corporação
Em uma cerimônia rápida e fechada, o presidente Jair Bolsonaro assinou o termo de posse do novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza. O delegado foi escolhido para a função como alternativa ao chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, impedido de assumir o cargo após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ex-secretário de planejamento e gestão da Abin, o novo comandante da PF terá como uma de suas missões trabalhar ainda mais próximo do serviço de inteligência do governo. Desde o ano passado, delegados federais foram cedidos para a equipe de Ramagem como parte de uma estratégia de integração dos trabalhos desenvolvidos pelas duas corporações. Agora, com a nomeação de Rolando Alexandre, esse processo deverá acelerar ainda mais nos próximos meses.
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Clique e AssineEssa nova diretriz da Polícia Federal e da Abin pode gerar atritos internos dos dois lados, ressuscitando conflitos do passado. Na PF, há certo receio de que a corporação se torne um órgão de assessoria do presidente da República, ao invés de priorizar o seu papel de polícia judiciária. Na agência de inteligência, alguns oficiais torcem o nariz para a presença de policiais no comando de operações estratégicas. Integrantes de ambas instituições relembram a atuação desastrosa da Operação Satiagraha, que espionou autoridades de Brasília no governo Lula.
Ao se demitir do ministério da Justiça, Sergio Moro disse que Bolsonaro queria ter acesso a relatórios de inteligência da Polícia Federal. Em entrevista coletiva, o presidente confirmou a sua intenção de interagir diretamente com o chefe da corporação assim como faz com a Abin. Por essa razão, ele escolheu o atual diretor da agência para assumir o comando da PF. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu essa indicação por suspeita de interferência política.
“A Polícia Federal não é um órgão de assessoria presidencial e o novo diretor-geral sabe disso. Esperamos que ele freie qualquer interpretação equivocada do papel da PF”, diz Edvandir Felix de Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).
Embora paire dúvidas sobre a nomeação do novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre é reconhecido por delegados como um profissional com perfil técnico e com ampla experiência de gestão. Ele foi o responsável por conduzir a primeira investigação da Polícia Federal no mercado financeiro. Além de chefiar a superintendência de Alagoas, ele comandou o Serviços de Repressão a Desvio de Recursos Públicos.
Em sua passagem por Brasília, Rolando Alexandre ajudou a implementar um banco de dados sobre as movimentações de recursos públicos. Uma das funções do sistema era rastrear, por exemplo, o uso da verba da União destinada à saúde nos estados e municípios. Esse também deverá ser outro foco da nova gestão da PF — investigar indícios de corrupção durante a crise do coronavírus.