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Polícia e MP apontam Flordelis como mandante da morte do marido no Rio

Segundo as investigações, crime ocorreu por dinheiro. Deputada do PSD não foi presa por ter imunidade parlamentar

Por Cássio Bruno, Jana Sampaio Atualizado em 24 ago 2020, 14h16 - Publicado em 24 ago 2020, 12h07
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  • A Polícia Civil e o Ministério Público estadual do Rio de Janeiro apontaram a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) como a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. O crime ocorreu em 16 de junho de 2019. A vítima levou mais de 30 tiros quando chegava em casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói, Região Metropolitana da capital.

    Nesta segunda-feira, 24, policiais da Divisão de Homicídios e promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MP-RJ) deflagraram a Operação Lucas 12, em homenagem à passagem bíblica que diz “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto”. Cinco filhos e uma neta da deputada foram presos. Flordelis só não foi detida porque tem imunidade parlamentar.

    “O motivo do crime, descreve a denúncia, seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família”, escreveu o MP em nota. O Ministério Público levou o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), que mantém o foro privilegiado apenas em crimes exercidos em decorrência do mandado parlamentar, o que não era o caso. O ministro Luis Roberto Barroso definiu que o processo deveria tramitar na 3ª Vara Criminal de Niterói, onde a deputada é ré na ação penal.

    Foram alvo de mandados de prisão nesta segunda: os filhos biológicos de Flordelis, Adriano dos Santos Rodrigues, Simone dos Santos Rodrigues e Flávio dos Santos Rodrigues, este último já preso desde o ano passado. Na lista, há ainda o filho adotivo da deputada e de Anderson do Carmo, Lucas Cezar dos Santos de Souza, além de Carlos Ubiraci Francisco da Silva, André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos sócioafetivos do casal. Na ação, aparecem ainda a neta de Flordelis, Rayane dos Santos Oliveira (filha de Simone). O policial militar Marcos Siqueira Costa e a mulher dele, Andrea Santos Maia, também aparecem na denúncia como participantes do assassinato.

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    Em entrevista coletiva, o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de São Gonçalo e Niterói, disse que “não há dúvida” de que Flordelis foi autora intelectual da morte do marido e que, além dos dois autores, o executor (Flávio dos Santos Rodrigues) e o partícipe (Lucas Cezar dos Santos de Souza), outras pessoas participaram de forma efetiva para que essa morte fosse causada. Ao fim das investigações a polícia constatou que não houve ninguém na cena do crime além do Flávio.

    “Pelo menos dois disparos foram efetuados à queima-roupa, o que demonstra intenção deliberada de matar a vítima. Nos causou mais surpresa quando outros crimes foram descobertos, como falsidade ideológica, pelo menos seis tentativas de envenenamento e organização criminosa majorada por emprego de arma de fogo. A gente descobriu que não se tratava de uma simples família, mas de uma organização criminosa intrafamiliar, que visava alcançar propulsão financeira e política”, disse.

    O promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira explicou que as tentativas de envenenamento contra o pastor Anderson do Carmo foram realizadas desde maio de 2018, utilizando arsênico como veneno. “O envenenamento foi feito de forma gradual, sucessiva. O arsênico era colocado na comida do pastor de forma dissimulada. Até 2019, ele teve várias passagens na emergência de hospitais de Niterói, com diarreia, vômitos, sudorese, que foram tratadas como se fossem outras coisas”, explicou.

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    Segundo as investigações, a parlamentar teria dito que não poderia se separar de Anderson porque isso mancharia a imagem da família junto aos fiéis do Ministério Flordelis. “Quando ela falou com um dos filhos sobre os planos de matar Anderson, ela disse: ‘Fazer o que? Se eu separar dele, vou escandalizar o nome de Deus'”, afirmou o promotor Sérgio Pereira. “Nós temos provas técnicas, inclusive o depoimento dela, que é eivado de contradições. Além de arquitetar todo esse plano, ela financiou a compra da arma, convenceu pessoas a realizarem esse crime, avisou sobre a chegada da vítima ao local e tentou ocultar provas. Não resta a menor dúvida que ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime”, disse o delegado Allan Duarte.

    O MP diz ainda que, em setembro de 2019, Flordelis atrapalhou as investigações com depoimentos falsos à polícia. Segundo a apuração policial, a morte de Anderson causou um racha dentro da família e, por isso, alguns de seus membros decidiram contar à polícia o que aconteceu. “A Flordelis entregou uma carta ao Lucas, por meio de seus advogados, e ele copiou o conteúdo do texto e assumiu a autoria dos disparos e imputou os irmãos que se rebelaram contra a deputada como mandantes. Quando fizemos uma audiência, no entanto, essa versão dele caiu por terra”, explicou o promotor do MPRJ.

    Na denúncia, os promotores detalham o momento da morte de Anderson do Carmo: “O homicídio foi cometido por meio cruel, eis que alveja por dezenas de disparos de arma de fogo, inclusive na região próxima às genitálias, a vítima agonizou com intenso e desnecessário sofrimento até a sua morte”. De acordo com as investigações, o pastor foi atingido de surpresa na garagem de sua residência quando, inclusive, vestia apenas a sua roupa íntima.

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