A Procuradoria-Geral da República (PGR) negou nesta quarta-feira que o gabinete de Rodrigo Janot tivesse conhecimento de que o ex-procurador Marcello Miller já trabalhava para os irmãos Joesley e Wesley Batista antes mesmo de se desligar do Ministério Público Federal.
Em nota, a PGR diz que não procedem informações sobre “eventual ligação indevida” de Miller com a cúpula da holding da JBS.
Na tarde desta quarta-feira, o site de VEJA revelou o teor de um relatório da Polícia Federal em que são reproduzidas mensagens trocadas por Marcello Miller com dirigentes da empresa. No documento, a PF conclui que o gabinete de Janot sabia da ligação do ex-procurador com a JBS.
“A PGR desconhece o teor do relatório e, pelo que foi publicado, trata-se de conversas de terceiros fazendo suposições sobre a atuação de integrantes do Grupo de Trabalho que auxiliam o procurador-geral da República nos processos da Lava Jato perante o Supremo Tribunal Federal. Os fatos veiculados pela revista mostram tão somente que foi frustrada a tentativa dos advogados dos colaboradores de misturar indevidamente negociações de colaboração premiada e leniência. A PGR, de fato, negociou as colaborações (matéria penal), firmadas em maio, e a Procuradoria da República no DF conduziu as tratativas de leniência (matéria cível), cuja conclusão ocorreu em junho deste ano”, diz a nota de esclarecimento distribuída pela PGR.
Reservadamente, um dos principais auxiliares de Janot acusa a Polícia Federal de estar usando a polêmica em torno da delação da JBS para atacar o Ministério Público. “Eles (delegados) provavelmente enfiaram (as mensagens) no meio de um relatório que não tem nada a ver com esse assunto para sacanear, dizer que o MP faz colaborações mal-feitas”, diz.
Sobre as mensagens em que os representantes da JBS dizem que o staff do procurador-geral sabia que Marcello Miller iria aos Estados Unidos representar a companhia em reuniões com autoridades americanas, o auxiliar de Janot até admite que sabia da viagem, mas diz que desconhecia o motivo: “Ele nos procurou pedindo para agilizar os procedimentos da exoneração, falou que tinha uma viagem, mas não sabíamos o motivo dessa viagem”.
A Procuradoria sustenta que só soube que Marcello Miller estava trabalhando para a JBS em 11 de abril, quando ele viajou a Brasília para participar de uma reunião representando a empresa. Miller se desligou formalmente do Ministério Público em 5 de abril. O auxiliar de Janot classificou como “cafajestagem” a postura do antigo colega, agora reveladas nas mensagens, de aliar-se à JBS antes de seu desligamento definitivo da Procuradoria. “Hoje eu gostaria de passar com uma roda de caminhão em cima dele”, disse.
Leia a seguir a nota da Procuradoria-Geral.
“Nota de Esclarecimento
A Procuradoria-Geral da República esclarece que não procedem as informações veiculadas no site da revista Veja, com ilações sobre um suposto conhecimento do Gabinete do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, a respeito de eventual ligação indevida do ex-procurador da República Marcello Miller com pessoas ligadas ao Grupo J&F.
“A PGR desconhece o teor do relatório e, pelo que foi publicado, trata-se de conversas de terceiros fazendo suposições sobre a atuação de integrantes do Grupo de Trabalho que auxiliam o procurador-geral da República nos processos da Lava Jato perante o Supremo Tribunal Federal. Os fatos veiculados pela revista mostram tão somente que foi frustrada a tentativa dos advogados dos colaboradores de misturar indevidamente negociações de colaboração premiada e leniência. A PGR, de fato, negociou as colaborações (matéria penal), firmadas em maio, e a Procuradoria da República no DF conduziu as tratativas de leniência (matéria cível), cuja conclusão ocorreu em junho deste ano.
A reportagem cita um compromisso assumido por membros do GT da Lava Jato de informar às autoridades norte-americanas do início das tratativas com o referido grupo empresarial para firmar acordo de colaboração premiada com a PGR, o que foi feito após a assinatura do pré-acordo, no dia 7 de abril. Esse procedimento é praxe em casos de colaboração que envolvem interesses de autoridades internacionais.
Os integrantes da equipe do procurador-geral da República só foram informados da participação do ex-procurador da República Marcello Miller nas negociações sobre o acordo de leniência, depois de sua exoneração, quando este participou de reunião com esta finalidade no dia 11 de abril. Vale ressaltar ainda que jamais houve conversas entre advogados e os procuradores que atuam no Grupo de Trabalho da Lava Jato que pudessem denotar indício da participação de Marcello Miller na colaboração firmada na esfera penal.”